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Queime Depois de Ler (Burn After Reading), de Ethan Coen e Joel Coen (EUA)

Por Gilberto Silva Jr.

Após uma longa carreira cinematográfica, Joel e Ethan Cohen permanecem criadores inquietos, que, com raras exceções, não tendem a se acomodar com os louros do sucesso. Após a estarrecedora consagração com o premiado Onde Os Fracos Não Têm Vez, quando se esperaria deles mais um drama seco e descrente à linha desse filme premiado, eles surgem com uma comédia debochada. Passo semelhante ao que haviam feito há pouco mais de uma década, quando a Fargo (1996) - seu maior sucesso até então - sucedeu-se o insano e por vezes mal-compreendido O Grande Lebowski (1998).

Lebowski e Queime Depois de Ler podem ser vistos como filmes aparentados dentro da obra dos Cohen. Seja como paródia revisionista de gêneros consagrados - no caso film noir e espionagem, respectivamente - seja como irônicos tratados sobre facetas da imbecilidade humana. Se Dude (Jeff Bridges), o protagonista de O Grande Lebowski,parece nunca compreender o que se passa a sua volta por estar sempre intoxicado por maconha, os cinco personagens centrais de Queime... estão embriagados pela própria empáfia, que os torna figuras completamente "sem noção", seja do vazio dos objetivos que norteiam suas vidas bestas, seja da insignificância das supostas informações secretas que detonam a trama.

Cabe aos roteiristas-diretores explorar suas situações com um texto enxuto, mordaz e que brinca com uma estrutura de sucessivas viradas e reversões de expectativas, alem de um trabalho de câmera objetivo e de poucas firulas. No elenco, onde os protagonistas também buscam subverter estereótipos que os consagraram, destaca-se Brad Pitt, genial como o gayzinho de academia. Ao final, as intervenções do chefe da CIA (J.K. Simmons), refletem a surpresa e o deleite da platéia perante o absurdo que lhes é apresentado.

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