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Tempos ingênuos


Berço do jazz, Nova Orleans tem inúmeras histórias a contar sobre o ritmo que sacudiu os EUA na virada do século XIX ao XX, levando à elite branca o suingue e a melodia tão comuns na comunidade negra. "Sinfonia bárbara" (“Birth of the blues”, 1941) é uma delas, adaptando livremente a trajetória da Dixieland Jazz Band, que estourou por volta de 1915.


Protagonizado pelo showman Bing Crosby, o drama musical mescla homenagens e leveza ao contar a história de uma banda mambembe formada por um jovem amante do jazz, uma vocação que resulta na reprovação de seu pai desde cedo - algo natural para a época, vide o preconceito acerca de tudo que vinha dos negros. Entretanto, por mais que o longa retrate uma realidade lamentável do período, chama a atenção, sob uma perspectiva atual, o quanto não avança muito além da denúncia implícita. Os poucos personagens negros são coadjuvantes terciários, com o objetivo de ora entreter, ora servir, sem qualquer aprofundamento ou contestação.


Talvez a imagem síntese do filme seja a sequência em que o negro Louie (Rochester) ensina a jovem branca Betty Lou Cobb (Mary Martin) a cantar no ritmo do jazz, de forma que ela - e não ele - possa se apresentar à elite (branca) e, com isso, ganhar dinheiro, o que hoje poderia servir como exemplo de apropriação cultural.


Por mais que desperte questionamentos, não é este o objetivo maior de "Sinfonia bárbara". A partir de um roteiro simplório, a proposta é explorar a formação da banda para apresentar Crosby em diversos números musicais, muitos deles encantadores. A beleza das canções é acompanhada pelo companheirismo existente na banda e o carisma infantil da tia Phoebe (Carolyn Lee), resultando em cenas bem-humoradas e inusitadas, como o cavalo dançando com o som tocado. Em tempos mais ingênuos, era o que podia ser feito.

(Texto publicado na revista da mostra "O Jazz vai para Hollywood" parceria ACCRJ/Cinemateca do MAM - Setembro de 2019)



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