2020, cinema em tempos de cólera
Por Lucas Salgado
2020 foi um ano atípico e doloroso. O mundo foi atingido pela pandemia de covid-19 e teve que se adaptar a uma nova realidade. Isso, é claro, também valeu para a cena cultural. Anualmente, a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) faz uma retrospectiva dos principais eventos cinematográficos no Brasil e no mundo. Em 2020, como não poderia deixar de ser, tal apanhado refletiu esse cenário particular.
Antes de destacarmos as consequências da pandemia para a indústria audiovisual, é importante lembrar que tivemos três significativos acontecimentos antes do início da quarentena: a Mostra de Cinema de Tiradentes, que consagrou filmes como “Sertânia”, de Geraldo Sarno; o Oscar 2020, que fez história ao premiar “Parasita”, de Bong Joon Ho; e o Festival de Berlim, praticamente o único grande evento internacional a não ser afetado pela pandemia. Em seguida, o que vimos foi um cenário de confusão e improviso.
Embora tenha tido seu início no final de 2019, a pandemia gerada pelo novo coronavírus se espalhou pelo mundo de forma definitiva a partir de março de 2020, quando passamos a ver consequências mais claras na cena cultural, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. E o primeiro indício para a indústria foi o adiamento de importantes lançamentos no primeiro semestre do ano, como “Um lugar silencioso 2”, “007” e “Mulan”, entre outros filmes. O caso de “Mulan” foi mais simbólico, pois foi jogado para o Disney+, fortalecendo a posição do streaming no mercado.
Além do streaming, o cinema buscou sobreviver retomando uma tradição do passado: os drive-ins. Por todo o Brasil, espaços abertos foram improvisados em cinemas que poderiam ser acessados por carros. A programação, em sua maioria, era composta por clássicos da sétima arte.
Diante da situação atípica, os festivais procuraram soluções de forma aleatória. Alguns optaram por cancelar suas edições, como o de Cannes e o do Rio. Já outros investiram em versões on-line, e o resultado foi, no geral, bem-sucedido. O Festival Ecrã, o É Tudo Verdade, o Olhar de Cinema de Curitiba, o Festival de Vitória e a Mostra de São Paulo foram totalmente virtuais. Além da internet, buscou-se apoio na televisão. O Festival de Gramado, o CinePE, o Cine Ceará e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tiveram sua seleção exibida no Canal Brasil. No caso da mostra cearense, realizada em dezembro, destacou-se ainda o formato semipresencial, uma raridade na cena de festivais ao longo do ano. Aproveitando um momento menos intenso da pandemia, em novembro a ACCRJ promoveu, no Rio de Janeiro, a mostra Marilyn Monroe – A Maior Estrela de Hollywood, seguindo os devidos protocolos de segurança.
O ano foi de grande dificuldade para produtores culturais. Inúmeros projetos foram interrompidos e muitos perderam a fonte de renda. Nesse sentido, é fundamental destacar a criação da Lei Aldir Blanc, instrumento legal instituído em homenagem ao falecido compositor de música popular brasileira que oferece auxílio financeiro a profissionais da cultura.