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Melhor Filme: A Separação (Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi (Irã)

Por Myrna Silveira Brandão 

Além da receptividade favorável de público e crítica, "A Separação", do cineasta iraniano Asghar Farhadi, vem acumulando prêmios por onde tem passado: entre outros, ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o César na França, o Globo de Ouro nos Estados Unidos e o Oscar de melhor filme estrangeiro. Nada mais merecido. Diretor do ótimo "Procurando Elly" (2009), Farhadi voltou a realizar um drama moral e social poderoso, passado no Irã nos dias de hoje.

A história segue uma familia formada por Simin (Leila Hatami), Nader (Peyman Moadi) e a filha de ambos, Termeh (Sarina Farhadi, filha do diretor). Quando Simin decide deixar o Irã para dar um futuro melhor para Termeh, Nader se recusa a acompanhá-la porque precisa cuidar do pai, doente com Alzheimer. 

Simin decide então voltar para a casa dos pais, e Termeh prefere ficar com Nader. O filme toma outro rumo quando ele contrata uma mulher grávida para ajudá-lo a tomar conta de seu pai. Ela aceita o emprego sem o marido saber, pois ele jamais deixaria que ela trabalhasse numa casa em que a mulher do dono está ausente.

Farhardi conta que a origem do longa remonta a quando ele estava em Berlim trabalhado num roteiro para um filme que se passava inteiramente na cidade alemã. Uma noite, na casa de um amigo, ouviu uma música iraniana e, repentinamente, sua mente foi tomada por memórias e imagens ligadas a outra história. 

"Eu tentei me livrar delas e me concentrar no roteiro que estava desenvolvendo, mas as ideias já tinham formado raízes. Voltei para o Irã e comecei a escrever outro filme", explicou o diretor, que tem um método muito próprio de trabalhar com os atores, todos com um excelente desempenho. Não foi à toa que, além do Urso de Ouro, o filme ganhou dois Ursos de Prata para o conjunto das interpretações masculina e feminina. 

Sem colocar ostensivamente política em seu filme - embora ela se faça presente o tempo todo - Farhadi traça um retrato intenso da sociedade iraniana atual, que inclui injustiça, religião, arbitrariedade, separação de classes e preconceito. O cotidiano dos personagens é retratado com tamanho naturalismo que, em certos momentos, temos a impressão de estar assistindo a um documentário. O engajamento discreto do diretor mostra que seu país tem problemas, mas as críticas aos costumes e à religião são feitas sem agressividade, e ele não impõe seu julgamento ao público. Na trama não existem heróis ou vilões - existem pessoas. 

"A Separação" é um belo e intenso drama, extremamente honesto e que em nenhum momento tenta influenciar ou induzir a audiência. Por isso termina em aberto, marcado pela premência social, mas também pela riqueza de coerência da realização.   

Jodaeiye Nader az Simin - Irã, 2011 - Direção: Asghar Farhadi - Roteiro: Asghar Farhadi - Produção: Asghar Farhadi - Fotografia: Mahmoud Kalari - Montagem: Hayedeh Safiyari - Elenco: Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseini, Sareh Bayat, Sarina Farhadi, Babak Karimi, Ali-Asghar Shahbazi, Shirin Yazdanbakhsh - Duração: 123 minutos.

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