
A Substância
Por Luciana Costa
Decadentismo e surrealismo em ascensão
Demi Moore ganhou notoriedade ao estrelar “Ghost: Do outro lado da vida” (1990) ao lado de Whoopi Goldberg e Patrick Swayze. Porém, foi consagrada ao interpretar personagens sedutoras se valendo de sua extrema e inegável beleza, sobretudo ao longo da década de 90, em filmes como “Assédio sexual” (1994) e “Striptease” (1996). Infelizmente, com raríssimas exceções, Hollywood não costuma conceder o protagonismo feminino para mulheres com mais de 35 anos, principalmente as famosas pela forma física. Já tendo quase desistido da carreira, segundo depoimento da própria, Demi retorna as telas neste papel extremamente corajoso e polêmico que lhe rendeu o merecidíssimo prêmio Globo de Ouro de melhor atriz no gênero comédia ou musical.
A trama se passa nos dias atuais, mas o tempo todo remete aos anos 80 com suas luzes de neon, cores vibrantes, aeróbica e polainas. A roteirista Coralie Fargeat (“Vingança”, 2017), que também assina a direção, teve habilidade em criar este universo surrealista, ilustrando os medos e inseguranças femininas, instigados por uma sociedade que descarta mulheres de meia idade. Isso faz com que elas sejam capazes de loucuras e atrocidades para se manter jovens, atraentes e relevantes em suas profissões, especialmente, no show business.
Demi More e Margaret Qualley (Maid) interpretam, de certa forma, dois lados de uma mesma mulher. A diretora com seu estilo de filmar causa sensações de desconforto no espectador, combinando terror, ficção cientifica, humor ácido e drama. O close-up em objetos como relógios, ou a escolha de mostrar o corpo de Demi de forma bela e depois debilitado faz o público experimentar diversas sensações. Além da câmera conseguir extrair aversão ao personagem de Dennis Quaid (“Viagem insólita”, 1987), que interpreta um chefe de emissora completamente abominável nos mais variados sentidos.
“A substância” critica o etarismo, autocobrança e os procedimentos estéticos desenfreados, lançando mão do drama e do final grotesco, que evoca “A morte lhe cai bem” (1992), de Robert Zemeckis e “O homem elefante” (1980), de David Lynch.
