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A Favorita

Por Ana Carolina Garcia

Desconstruindo a imagem da realeza

Livremente inspirado na história da rainha Anne da Inglaterra, “A favorita” (“The favourite”, 2018) é estruturado em oito capítulos que exploram o lado mais sombrio do ser humano, contrapondo imponência arquitetônica e degradação moral numa trama que flerta com o grotesco.

 

Neste drama de época, o cineasta grego Yorgos Lanthimos, de “A lagosta” (“The lobster”, 2015), esmiúça os bastidores da corte no início do século XVIII por meio da figura da rainha Anne (Olivia Colman), mulher frágil em termos de saúde física e mental, situação que se agrava após a perda de 17 filhos. Completamente alienada como governante, desconhecendo os acontecimentos do outro lado dos muros do palácio, a soberana é manipulada por sua dama de companhia e amante, Sarah (Rachel Weisz), cujo “reinado” é ameaçado pela chegada de uma nova aia, sua prima Abigail (Emma Stone), jovem em busca de ascensão a qualquer custo.

 

Usando a ganância como combustível, “A favorita” foge do clichê de monarquia perfeita para apresentar ao espectador uma trama sobre relações de poder e dependência emocional, calcada na manipulação dos desejos mais íntimos de Anne. Neste contexto, Lanthimos aborda também as consequências das ações da rainha sobre seu país e povo.

 

Conduzido com maestria por Lanthimos, o longa impressiona por seu rigor técnico. É um trabalho minucioso de direção de arte, figurino e montagem, que insere a trilha sonora com precisão cirúrgica na trama. Entretanto, é a fotografia de Robbie Ryan que chama a atenção por optar pelo uso de lentes grande-angulares, distorcendo a imagem, além de trabalhar luzes e sombras com esmero para exprimir as mais variadas emoções dos personagens, defendidos com competência pelo trio principal.

 

Indicadas ao Oscar de atriz coadjuvante, Rachel Weisz e Emma Stone equilibram força e sutileza na composição de suas personagens, mas deixando nítido que são animais peçonhentos prestes a dar o bote, em pleno domínio cênico. Olivia Colman explora fraquezas, medos e traumas para desconstruir a imagem intocável inerente à realeza numa composição que lhe rendeu a estatueta dourada de melhor atriz. São desempenhos que concedem densidade à trama de difícil digestão que liderou a corrida pelo Oscar 2019 ao lado de “Roma” (2019), de Alfonso Cuarón, ambos com 10 indicações.

A Favorita (The Favourite), de Yorgos Lanthimos (Irlanda/Reino Unido/EUA, 2018). Com Olivia Colman, Emma Stone, Rachel Weisz.

 

Comédia dramática. Sinopse: A Inglaterra está em guerra com a França. A frágil rainha Ana da Grã-Bretanha ocupa o trono, e sua amiga próxima Sarah Churchill, Duquesa de Marlborough, governa em seu nome enquanto cuida da saúde e do temperamento da rainha. 119 min. 14 anos.

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