
Ainda Estou Aqui
Por Ana Carolina Garcia
O cinema brasileiro ainda está aqui
Baseado em livro homônimo publicado em 2015 por Marcelo Rubens Paiva, “Ainda estou aqui” chegou ao Brasil já consagrado do exterior, premiado no Festival de Veneza, onde foi ovacionado por 14 minutos. Dirigido por Walter Salles, o longa começa em 1970 mostrando a família do autor pouco antes da prisão e posterior assassinato de seu pai, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), em janeiro de 1971. Em meio ao luto, sua mãe, Eunice (interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro), se reinventa para manter a união familiar enquanto luta por respostas e justiça.
Com roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega, o filme tem como fio condutor a ditadura militar, mas, aos poucos, o espectador é apresentado à sua real essência, a do drama de uma família impedida de viver na totalidade a dor da perda do ente querido. Para tanto, Salles o conduz com sensibilidade, permitindo à plateia compartilhar da dor e indignação dos personagens, tendo como grande alicerce as belas atuações de Fernanda Torres e Selton Mello, que explora não a ideologia política de Rubens, mas a figura de marido e pai.
Contida, mas poderosa em cena, Torres condensa sentimentos distintos com maestria, sem nunca sobrepor emoção à razão, nem quando precisa retratar a prisão de Eunice e uma de suas filhas. É uma atuação que a tornou a primeira brasileira a vencer o Globo de Ouro de melhor atriz em filme de drama, cravando seu nome na história de Hollywood por um papel que divide com a mãe, Fernanda Montenegro, que chama a atenção por meio do olhar e expressões faciais sutis ao viver Eunice acometida pelo Mal de Alzheimer, doença que a derrotou em 13 de dezembro de 2018, nos 50 anos do AI-5.
“Ainda estou aqui” não é apenas sobre um dos capítulos mais sombrios da história do Brasil, mas sobre uma mulher que encontrou força descomunal no momento de dor extrema. É um filme primoroso e impactante, que levou cerca de três milhões de brasileiros aos cinemas.
