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Amor (Amour), de Michael Haneke (França / Alemanha / Áustria)

Por Myrna Silveira Brandão

Amor, de Michael Haneke – sobre a relação entre dois idosos: Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), que está à beira da morte – é um filme forte, sombrio e extremamente realista. Em alguns momentos até parece um documentário que narra um acontecimento terrível e doloroso.  

 

Anne sofreu um derrame e Georges, com um misto de devoção e tristeza, se torna responsável por lhe dar comida, banho e atendê-la em todos os momentos, levando ao extremo a capacidade de cuidar da mulher fragilizada. O filme segue a rotina após o infortúnio, quando os espectadores são sufocados numa espiral de acontecimentos que atordoam e incomodam. Os dois moram sozinhos e a única filha, Eva (Isabelle Huppert), está sempre distante e aparece como o contraste de alguém cheio de energia perante a morte iminente dos pais.

 

O argumento, que poderia parecer simples, se revela mais complexo a cada cena, a cada plano, a cada expressão dos atores. As cenas são desconfortáveis e, por vezes, extremamente constrangedoras.

 

O próprio Haneke reconhece que Amor partiu de uma ideia que surgiu na vida real. “Quando chegamos a uma etapa da vida, forçosamente o sofrimento acaba nos tocando. Não era minha intenção mostrar nada de novo, o que acontece no filme faz parte da realidade. Isso acontece em todas as famílias, inclusive na minha”, resume o diretor austríaco-alemão do também sufocante A Fita Branca.  

 

Haneke evita o excesso de melodrama no que já é doloroso por si próprio e, para expressar o desgaste lento e gradativo, é perfeito na utilização dos planos longos. O cenário contribui para metaforizar os traços de decadência: móveis escuros e entulhados de livros empoeirados, porta-retratos desbotados, quadros sem vida e objetos que dominam a residência do casal (onde 99% das cenas são ambientadas) parecem revelar uma morte lenta e gradativa que há anos vem consumindo os seus habitantes. A fotografia de Darius Khondji destaca a inevitabilidade da morte na fraca exposição, como se a luz (a vida) fosse retirada do apartamento onde o casal está confinado.

 

Amor é uma obra crua, porém poderosa, ao representar o autêntico significado do sentimento. Além do amor, Georges sabe que grande parte de sua vida está nas lembranças de Anne e que, com sua morte, será destruída também parte de sua própria história. Haneke, mais uma vez, revela seu enorme talento para dirigir atores. E os protagonistas fazem sua parte, com desempenhos de uma veracidade impressionante.

 

Realizador de um cinema amargo, mas extremamente real, Haneke vem depurando seu estilo filme após filme. Sua disposição para explorar ao máximo e desconforto dos espectadores chega ao extremo em Amor.  Seu cinema não é ambíguo ou simbólico, tudo é aquilo que parece ser.

 

Vencedor da Palma de Ouro de Cannes, do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e do Oscar na mesma categoria, Amor é uma profunda e imperdível reflexão acerca da brevidade da vida.

 

Amour – França/ Alemanha/ Áustria, 2012 - Direção: Michael Haneke – Roteiro: Michael Haneke – Produção: Margaret Ménégoz, Stefan Arndt - Fotografia: Darius Khondji – Montagem: Nadine Muse, Monika Willi – Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, Ramón Agirre, William Shimell – Duração: 127 minutos.

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