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Amor, sublime amor

Por Gilberto Silva Jr.

Releitura vigorosa

Em seus mais de 50 anos de carreira como cineasta, Steven Spielberg construiu uma obra sólida, marcada, inicialmente, por temáticas referentes à infância e à ausência paterna. Ao resolvê-las em definitivo com “A.I.: Inteligência Artificial” (2001) e “Prenda-me se for capaz” (2002), o Spielberg do século XXI perseguiu novos trajetos. A partir dos anos 2010, consolidou a tendência de releitura de facetas do cinema americano clássico com “Cavalo de guerra” (2011), uma abordagem inspirada em John Ford, o maior de todos os cineastas. Seguindo pelo universo fordiano, o diretor absorveu elementos dos filmes de maquinações políticas dos anos 1960, o que aparece em “Lincoln” (2012). Depois visitou o drama da Guerra Fria em “Ponte dos espiões” (2015) e faz sua revisão do realismo setentista em “The post: a guerra secreta” (2017).

 

A passagem pelo musical, embora ousada, parece ter surgido naturalmente. Ousada não somente por partir de um diretor ainda virgem no gênero, mas sobretudo pela opção de refilmar um dos mais célebres, “West side story”, 60 anos depois do original de Robert Wise e Jerome Robbins chegar às telas. Pois bem, Spielberg conseguiu o que parecia improvável: fazer um filme que nada fica a dever à matriz e que, em alguns pontos, chega a superá-la. Sem modificar o período de ação da trama e mantendo fidelidade ao clássico, o roteiro de Tony Kushner explicita questões que tornam o universo retratado cada vez mais atual, passando por temas como gentrificação, racismo e xenofobia.

 

A escolha do elenco, com atores de idade e etnia mais próximas às dos personagens se mostra natural. E, com o balé da câmera, Spielberg – que aos 75 anos consegue ao mesmo tempo sofisticar e rejuvenescer seu talento de encenador – aproveita para exercitar todo o seu virtuosismo. Se em alguns momentos ele se perde um pouco na coreografia original de Robbins, números consagrados como “America”, transportado de um terraço para as ruas, e “Gee, Officer Kupkee” ganham uma simbiose tão vigorosa entre câmera e montagem que impressionaria até os criadores das peças e dos filmes originais.

Amor, sublime amor (West side story), de Steven Spielberg (EUA, 2021). Com Ansel Elgort, Rachel Zegler, Ariana DeBose.

Drama/Policial/Musical. Sinopse: Adaptação do famoso musical de 1957, que explora o amor proibido e a rivalidade entre os Jets e os Sharks, duas gangues de rua formadas por adolescentes de várias origens étnicas. 156 min. 12 anos.

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