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Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (Before the Devil Knows You’re Dead), de Sidney Lumet (EUA)

Por Rodrigo Fonseca

Egresso da hoje octogenária geração de realizadores americanos que, na década de 1950, fez da TV um tubo de ensaio para suas experiências narrativas na direção, Sidney Lumet se reinventou ao encontrar o digital em Antes que o diabo saiba que você está morto ("Before the Devil knows youre dead"). Partidário de "uma escola" pautada pela secura, no diálogo com o realismo, Lumet resolveu desafiar sua tradição com o 35 mm e apostar nas potencialidades de uma Panavision Gênesis HD. 

Estruturado na fronteira entre a ação e o suspense, o thriller é o gênero por excelência de Lumet, servindo a ele com perfeição incontestável em sua busca estética, em especial no plano dramatúrgico, no qual ele personalizou o filão, fazendo dele um terreno para refletir a falência da ética. Foi assim em "Doze homens e uma sentença" (1957), seu longa de estréia como realizador, e é assim na saga dos irmãos Andy (Philip Seymour Hoffman) e Hank (Ethan Hawke) Hanson de "Antes que o Diabo saiba que você está morto". 

A erupção de uma fatalidade sem chances de restauração da ordem e de conciliação é a deixa para que Lumet desnude a falência afetiva de seus personagens, a sombra da culpa e a incapacidade do perdão. Em seu trono chamuscado de almas penadas, o "diabo" da moral é incapaz de prever as reações de Charles (Albert Finney) ao saber do pecado de sua prole. Só Lumet sabe os horrores em de sua mente. E, livre para imprimir tensão a esse conto dostoiéviskiano de filhos pródigos, com o auxílio dos enquadramentos frenéticos que o digital lhe permite clicar, Lumet nos permite ser testemunhas de infrações imperdoáveis. E perversamente saborosas. 

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