Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou
Por Tatiana Trindade
A arte de morrer e perdurar a existência
O cinema tem muitas maneiras de contar uma história, mas as que mais tocam o público são aquelas feitas com sentimento. “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou” é muito mais do que um documentário sobre vida e morte. É uma narrativa feita com amor. Sobre um artista que amava viver e amava o seu trabalho, mas que precisou aceitar a finitude. E sobre sua companheira, que, vendo-o partir um pouco a cada dia, precisa igualmente aceitar o fim.
Misturando o onírico com o real, Hector Babenco vai relembrando sua trajetória em trechos de filmes dirigidos ou atuados por ele, e vai confrontando o sentido da vida e a ausência do existir. As cenas vão se misturando entre ele e Willem Dafoe, no dia a dia de seu último projeto, enquanto Babenco luta com as fraquezas oriundas da idade, que nunca retrocede.
Esse filme é a carta final de um homem que viveu plenamente e que flertou com a morte diversas vezes, sempre convivendo com o espectro da brevidade da vida. É também uma carta de amor finalizada por sua mulher, Bárbara Paz, atriz e diretora do documentário. Com o toque de carinho e intimidade, e um olhar de aprendiz e de companheira, o documentário se torna uma amálgama de sentimentos, com demonstrações de afeto e cuidado genuínas. Aqui, a expressão “na saúde e na doença” ganha força e se manifesta através de olhares, de falas e de uma preocupação constante com o luto iminente.
O filme usa o preto e branco para remeter à nostalgia e à saudade de algo que ainda não se concretizou, mas que logo se concretizará. E combina com ale grias e lembranças bonitas de um trabalho que, quando se fala em sétima arte, nunca tem fim.
“Babenco” é, portanto, a última declaração de amor que Bárbara dá a Hector, seu marido, como um último desejo dele. Muito mais do que um documentário, é uma despedida única e melancólica, que poderá sempre ser revisitada por ela quando a dor for pesada demais. Ele deixa de existir, mas seus pensamentos, sua visão artística e esse sentimento agridoce de saudade antes mesmo de sua partida, não.
Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou, de Bárbara Paz (Brasil/2019).
Documentário. Sinopse: Hector Babenco foi um cineasta que viveu e morreu realizando o que fazia sua vida ter algum sentido: a sétima arte. Em relatos marcantes sobre as memórias, amores, reflexões, intelectualidade e a frágil condição de saúde de Babenco, o documentário revela como o seu amor pelo cinema o manteve vivo por tantos anos. 75 minutos. 12 anos.