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Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds), de Quentin Tarantino (EUA)

Por Leonardo Luiz Ferreira

Próximo do desfecho, o coronel Landa toma uma decisão inesperada, que é puramente manifestada para marcar a sua passagem nos livros de história. Ou seja, o personagem tem ciência de que uma determinada ação pode mudar todo o curso da História. E esse pensamento está intimamente ligado ao que busca Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios. Ainda que a 2ª Guerra Mundial já tenha sido filmada por inúmeros realizadores, o diretor consegue imprimir seu olhar pessoal e fazer um filme que rompe com estruturas esquemáticas e reafirma seu cinema de autor. 

Mais do que referência para seu trabalho, o gênero faroeste recebe homenagens em Bastardos Inglórios: a começar pela tipologia antiga dos créditos e o letreiro que classifica a história como um era uma vez ... na França ocupada pelos nazistas. A isso se soma a trilha evocativa, aos moldes de Ennio Morricone, que tem trechos de suas músicas inseridos na obra, em parceria com Sergio Leone (Era Uma Vez no Oeste). Um enquadramento da porta para o campo infinito se interliga a John Ford (Rastros de Ódio); a questão do grupo de sanguinários tão presente na filmografia de Enzo G. Castellari, que faz uma ponta no filme, e Sergio Corbucci, além é claro de Sam Peckinpah (Meu Ódio Será a tua Herança). Mas observar somente por esse viés é ficar na superfície, já que Quentin tem um estilo muito particular em narrar as suas histórias, que não simplesmente emula cinemas de gênero. É como o caso de Brian DePalma (Um Tiro na Noite), um elemento A se choca com o B e forma-se um terceiro completamente distinto. 

A obra não se articula como um simples filme de guerra. Sendo assim, a ação principal vai transcorrer dentro de um cinema art déco - com inúmeras referências, seja nos pôsteres (Leni Riefenstahl, que documentou o nascimento do nazismo) ou nos letreiros (uma homenagem à Pabst, um importante realizador do cinema mudo). Nessa aura de filme dentro do filme, ele aproxima-se de um final apoteótico, tanto pela violência gráfica em planos que igualam os melhores momentos do gangsterismo nas telas (Scarface, de Howard Hawks) quanto pela simbologia, com um ar de vingança irônica de judeus contra os alemães. Um banho de sangue de tons psicanalíticos em seu movimento de sublimação através da brutalidade, que já foi pensado diversas vezes, mas que não havia sido levado às telas. Pois Tarantino sempre traduz esses sonhos pueris em algo concreto: filmes que ficam na memória e não se esvaem com o passar do tempo.

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