Beijo na Boca, não! (Pas sur la Bouche), de Alain Resnais (França)
Por Daniel Schenker Wajnberg
Transposição da opereta homônima escrita, em 1925, por André Barde e Maurice Yvain, Beijo na Boca, não! reúne várias características do cinema de Alain Resnais, como a abordagem cômica do contraste entre americanos e franceses, o investimento no campo musical e a utilização de espaços fechados. Mas não se trata de mera repetição. O resultado esbanja vitalidade.
A habilidade do cineasta em trabalhar com o artificial sobressai. Os personagens ostentam joias, trajam vestidos exuberantes, transitam por uma cenografiafake, comem (na verdade, olham mais do que comem) doces açucarados. A cor adquire importância, de acordo com a disposição de tons,pelas poucas ambientações.
Em dois atos marcados, Resnais dá vazão a algumas divertidas peripécias amorosas a partir do momento em que Gilberte decide esconder do marido, o industrial Georges, que foi casada anteriormente - com Thomson, americano que chega para tratar de negócios. Resnais cria saborosas passagens musicais: em especial, entre Gilberte e Thomson e,entre ele e as moças, que insistentemente pedem um beijo.
Os atores olham para a câmera e conversam com o público chegando a pedir sua cumplicidade. Além de "atualizar" um gênero de época, como a opereta, Alain Resnais evoca, por meio de um procedimento cinematográfico, uma relação direta, em tempo presente, com o espectador, como ocorre no teatro.