Belfast
Por Luciana Costa
Cinema, família e violência
De uns anos para cá vários cineastas lançaram filmes inspirados em fragmentos de suas vidas, é o caso de Paul Thomas Anderson com “Licorice pizza”, e, até mais recentemente, Steven Spielberg com “Os Fabelmans”. “Belfast” é mais um nestes moldes, mesclando a infância de Kenneth Branagh, com os atos violentos que ocorreram em sua cidade natal da Irlanda do Norte entre católicos e protestantes, que dá nome ao filme. Branagh é conhecido por seu estilo shakesperiano. Como diretor e roteirista, recebeu diversos prêmios como Bafta e Oscar. Segundo o próprio, a escolha de fazer “Belfast” quase todo em preto e branco é para dar um ar poético, de lembranças.
O filme começa colorido mostrando brevemente a Irlanda. Depois fica preto e branco quando chega à 1969, onde a trama se desenrola, e, termina colorido, para fins de simetria. Contém drama, ar lúdico, e ainda pequenos toques cômicos, principalmente da ironia e incoerência dos adultos. O longa venceu o Globo de Ouro de melhor roteiro e o Critics Choice Awards de melhor elenco, que conta com a veterana Judi Dench.
Toda a história se dá através do olhar inocente de uma criança, o expressivo Buddy (alter ego de Branagh). Um menino feliz, que é apaixonado por filmes, séries e peças. Vemos fatos cotidianos normais como broncas, amizades, brincadeiras, fantasias, relação com os avós, problemas financeiros e o primeiro amor e perda. Tudo isso utilizado como pano de fundo para um protesto à intolerância religiosa e a violência, que transformaram uma comunidade feliz e segura, onde todos eram como uma grande família, em um lugar extremamente perigoso.
Em vários momentos nos faz lembrar “A vida é bela” (1997), de Roberto Benigni, porém, com uma aura muito mais feliz, já que a família não passa por grandes tragédias, e, são entremeadas cenas com músicas bem animadas, muita dança e diversão. Este projeto de Branagh é uma ode a sua família, terra natal e ao cinema.
Belfast, de Kenneth Branagh (Reino Unido, 2021). Com Jude Hill, Lewis McAskie, Caitríona Balfe.
Drama. Sinopse: Um menino e sua família da classe trabalhadora vivenciam o fim tumultuado dos anos 60. 98 minutos. 14 anos.