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Clássicos de volta ao circuito

Por Filippo Pitanga

Quem não gosta de listas de melhores do ano? Ainda mais se o assunto é cinema. Quando chega dezembro, elas começam a pulular. E o debate segue com todos acompanhando avidamente as premiações que culminam com o Oscar. Mas nem tudo que merece sai vencedor, e nem tudo que sai vencedor merece. Mestres inegáveis do cinema já foram preteridos. E não é fácil identificar o tempo necessário que leva para uma obra ser reavaliada e ganhar seu peso real. Geração após geração, é importante que os cinéfilos tenham acesso a esse passado cinematográfico, principalmente aos filmes que ficaram fora dos registros dos prêmios. E eis que, em meio ao mercado dominado por grandes produções de cunho mais comercial – que também são muito bem-vindas, claro, para uma atividade econômica que permita salas de cinema que acolham também as produções independentes –, uma grata iniciativa começou a crescer e até a render frutos: a reexibição de clássicos remasterizados, não só em mostras, mas em circuito aberto, para um grande público que se acostumou a só ter esse tipo de filme à disposição em tela pequena, quando muito.


A começar pela precursora Clássicos Cinemark, já na quarta edição, que se mostrou não apenas um louvável resgate para cinéfilos, mas um êxito entre novas plateias, que lotaram salas mesmo com a acirrada disputa com os grandes lançamentos.  E a programação não ficou focada apenas em clássicos óbvios, perpassando os transgressores Taxi Driver (1976), de Scorsese, Laranja Mecânica (1971), de Kubrick, e Pulp Fiction (1994), de Tarantino; os exemplares paradigmáticos da máfia O Poderoso Chefão (1972) e Scarface (1983); o épico Lawrence da Arábia (1962); as comédias românticas míticas Quanto mais Quente Melhor (1959), Bonequinha de Luxo (1961) e Uma Linda Mulher (1990); e as danças contagiantes de Grease (1978), Os Embalos de Sábado à Noite (1977) e Footloose (1984). Pais e filhos, casais, tribos diferentes se enfileiram para rever ou ter o deleite da primeira vez diante de alguns dos maiores marcos da sétima arte.


Mas não só na Rede Cinemark sobreviveram obras atemporais. O Grupo Arteplex Espaço Itaú de Cinema incluiu na programação cópias trabalhadas com primor, como as do mestre do suspense Alfred Hitchcock, que teve os emblemáticos Os Pássaros (1963) e Um Corpo que Cai (1958) trazidos à luz nas salas escuras, com seu show de cortes e montagem de tirar o fôlego e suas louras fatais em perigo. Sem falar na homenagem póstuma a Tony Scott, com um dos melhores filmes do irmão do igualmente célebre Ridley Scott, o cult sexy-punk-vamp Fome de Viver (1983) e seu elenco eclético e inesquecível: Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. E mais: a estreia, 30 anos depois, dos até então inéditos no Brasil Boy Meets Girl (1984) e Sangue Ruim (1986), de Leos Carax. Talvez o clamor de seu recente “Holy Motors” (2012) tenha criado a brecha para sua filmografia exótica entre o público.

 

Continuando o percurso, o grupo Estação foi responsável por uma proeza: contrapor o cult-mor Era Uma Vez em Tóquio (1953) do gênio japonês Yasujiro Ozu, menos conhecido por aqui embora tão aclamado quanto Akira Kurosawa, e sua adaptação contemporânea Uma Família em Tóquio (2013), de Yoki Yamada. Ambas obras de uma delicadeza ímpar sobre a impiedade do envelhecer cresceram ainda mais com a comparação. São experimentações artísticas como essas que podem fazer com que as plateias se interessem pelo diferente, por culturas estrangeiras como a asiática de Ozu. Caso de cineastas antes sem chance de entrar em cartaz no Brasil e agora frequentadores das listas de melhores, como Hirokazu Kore-Eda, e seus Pais e Filhos (2013) e Ninguém Pode Saber (2004), e Hong Sang-Soo, com A Visitante Francesa (2012) e Hahaha (2010), todos exemplares de anos pregressos que se lançaram aqui com defasagem temporal – mas não sem reconhecimento.

 

Por fim, o elogiado e premiado circuito alternativo do Cine Joia brindou o público com o formato cineclube durante o ano todo, em sessões gratuitas com originais da ficção e da fantasia como Super-Homem – O Filme (1978) e De Volta para O Futuro (1985), ou mesmo 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), sempre acompanhados de debates com convidados.

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