top of page

Conquista da Honra, A (Flags of Our Fathers), de Clint Eastwood (EUA)

Por Mario Abbade

Em 2006, cineasta Clint Eastwood resolveu levar para os cinemas sua visão pessoal sobre uma batalha travada numa Ilha do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. A Conquista da Honra(Flags of Our Fathers, 2006) é a versão norte-americana sobre o conflito e as suas conseqüências. 

O longa leva o espectador a refletir sobre diversos temas, que ganham forma a partir da famosa foto de seis soldados içando a bandeira americana no monte Suribachi. Antes do fim da batalha de Iwo Jima, metade deles já terá morrido. E logo os três sobreviventes da foto, John ‘Doc Bradley (Ryan Phillippe), Rene Gagnon (Jesse Bradford) e Ira Hayes (Adam Beach), são transformados pelo governo em garotos-propaganda da venda de títulos de guerra para manter o país na luta. 

Por décadas, a foto de Iwo Jima simbolizou a vitória e supremacia americana. Eastwood desmistifica e apresenta os detalhes sórdidos dos bastidores dessa cena, que hoje é monumento nos EUA. Fica claro que o ser humano é um peão nas mãos de quem detém o poder. E da mesma forma que é elevado à condição de herói, é relegado ao ostracismo quando sua presença não é mais necessária. A trama é um questionamento filosófico sobre esse heroísmo, o papel da mídia, racismo e os horrores da guerra.

Eastwood utiliza o roteiro de William Broyles Jr. e Paul Haggis, baseado no livro escrito por James Bradley e Ron Powers, para destruir arquétipos. Sua abordagem é humana e distanciada. O tratamento quase documental confronta fato e mitologia com extrema imparcialidade. 

Tecnicamente, o filme é deslumbre visual. Eastwood utiliza as cores para separar os três segmentos da narrativa. Imagens descoloridas por filtros nas cenas de guerra, coloridas representando o presente e um tom intermediário marcando os acontecimentos em 1945. Esse maneirismo técnico provoca um jogo cênico de contrastes repleto de significado. Eastwood objetiva através desse recurso, mostrar respectivamente o lado sombrio da guerra, e nebulosidade de uma mentira perfeita e a busca incansável pela verdade.  

A trama avança e retrocede em flashbacks, que se completam milimetricamente. A investigação realizada por um dos narradores é similar a ocorrida em "Cidadão Kane". Figurinos, cenários e a música minimalista, composta por Eastwood, provocam um êxtase sensorial. Nos créditos finais, as fotos reais corroboram com a bela reconstrução ficcional. 

Depois de realizar o filme definitivo sobre os westerns com "Os Imperdoáveis", Eastwood atinge outro marco, desta vez sobre a Segunda Guerra Mundial.

bottom of page