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Carol, de Todd Haynes

(Reino Unido / EUA / Austrália)

Por Myrna Silveira Brandão

Complexidade e delicadeza

A abordagem do tema gay no cinema é antiga, tendo marcado presença em muitos filmes de guerra, épicos, faroestes, principalmente americanos. Mas, diferentemente da forma mais velada ou sutil como era abordado, de uns tempos para cá o tema tem sido mais explícito, tanto no trato da homossexualidade masculina quanto feminina, como é o caso de “O segredo de Brokeback Mountain”, que deu o Oscar de melhor diretor para Ang Lee em 2006, e “Azul é a cor mais quente”, de Abdellatif Kechiche (2013), que ganhou a Palma de Ouro em Cannes.

 

Esse é o cerne de “Carol”, visto sob o olhar de Todd Haynes, que já havia lidado com temas similares em “Velvet Goldmine” e “Longe do paraíso”. Ambientado na conservadora década de 1950 e baseado no livro “O preço do sal”, de Patrícia Highsmith – que, certamente devido à época e ao tema, usou o pseudônimo de Claire Morgan – o filme segue duas mulheres de classes sociais diferentes: Carol Air (Cate Blanchett), uma mulher sofisticada e segura de si que está passando por uma crise no casamento, e Therese (Rooney Mara), uma tímida vendedora de uma loja de departamentos.

 

Elas se conhecem por acaso quando Carol está fazendo compras de Natal num shopping e, de forma instantânea, sentem uma atração que vai crescendo progressivamente. Haynes desenvolve a relação entre as duas de forma branda e delicada. O romance floresce através de olhares, sorrisos e poucas palavras. A inocência do inesperado primeiro encontro vai dando lugar a uma relação mais profunda.

 

O filme tem a ótima montagem do paulista radicado nos EUA Affonso Gonçalves, também responsável, entre outras, pela edição de “Indomável sonhadora” (2012). Outro ponto alto é a impecável direção de arte de Jesse Rosenthal, na reconstituição dos EUA da década de 1950, bem como o desempenho das duas atrizes. Para elas, o diretor tem muitos elogios. “Elas trouxeram seriedade ao trabalho nos mínimos detalhes, e, de fato, houve uma química incrível entre ambas”, ressalta.

 

Sobre as muitas sequências de não ditos, quando predomina o silêncio, Haynes explica que isso se deve à sua decisão de ser fiel ao livro e à época em que o filme é ambientado. “Imaginem essas mulheres vivendo num mundo tão diferente em plena década de 1950. A questão do silêncio é uma parte importante do livro porque Therese tem dificuldade de descrever seus sentimentos por Carol e é difícil colocar isso numa linguagem”, destaca.

 

Sobre a boa acolhida a “Carol”, Haynes diz que, embora conheça o filme melhor do que ninguém, não tem a mesma objetividade dos espectadores. “Ainda estou processando a boa receptividade que ele tem tido. Acho que é um filme calmo, sereno e estou muito orgulhoso dele”, revela.

 

Além de sereno, “Carol” é um filme que revela significados nos pequenos gestos, que vão envolvendo os espectadores por completo até nos seus mais ínfimos detalhes, levando-os ainda à reflexão se o retrato de uma época, como mostrado na história, ainda encontra similaridades nos dias de hoje. De qualquer forma, é uma obra que certamente sobreviverá à passagem do tempo.

Carol - (EUA, 2015), de Todd Haynes. Com Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson.

Drama. Sinopse: A jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha. Carol, que está se divorciando de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida. As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos.120 min. 14 anos.

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