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A Qualquer Custo

Por Carlos Brito

Violência na terra. Violência entre os homens.

A paisagem da fronteira entre o estado americano do Texas e o México é pouco gentil e inóspita – montanhas áridas, terra seca e sol implacável. De várias maneiras, o ambiente que se vê ali funciona como representação visual do que pode ser encontrado nas pessoas que vivem naquele local – almas e corações endurecidos pela exploração do petróleo que traz a riqueza de alguns poucos e a pobreza de muitos, além da mais primária necessidade de sobrevivência em um lugar onde há pouco espaço para gentilezas.

 

Toda essa dureza, toda essa secura, toda essa hostilidade estão em cada fotograma de “A qualquer custo”, dirigido por David Mackenzie a partir do roteiro de Taylor Sheridan.

 

Na trama, os irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) realizam uma série de pequenos assaltos nas agências do Texas Midland Bank, a mesma instituição responsável pela execução da hipoteca que vai lhes deixar sem o rancho, única posse da família. O filme tem início com uma sequência intensa, quando um dos roubos é registrado pelo apuro da fotografia de Giles Nuttgens.

 

Apesar de dividirem o mesmo sangue, Toby e Tanner raciocinam e agem de maneiras opostas. O primeiro é contido, inseguro e movido por uma questão de responsabilidade – pai divorciado, preocupa-se com a pobreza gerada pela perda do rancho e a consequente dificuldade que isso acarretará na criação dos filhos. Já o segundo, recém-saído da cadeia, representa o aspecto agressivo da dupla – a violência da qual é capaz pode ser sentida de forma latente todas as vezes em que surge na tela.

 

Fica evidente, desde o início, que “A qualquer custo” é um western contemporâneo – não apenas pelo local onde a trama é ambientada, mas também pela maneira como o roteiro se desenvolve. Essa percepção é reforçada pela presença do Texas Ranger Marcus Hamilton (Jeff Bridges).

 

Próximo da aposentadoria, o veterano agente da lei decifra a forma como os irmãos assaltantes raciocinam e parte no encalço dos dois. Preconceituoso e antiquado de várias maneiras, em momento nenhum ele deixa de passar a noção de que tem uma missão a cumprir – talvez a última.

 

O longa ainda encontra espaço para colocar uma lente de aumento sobre dois fatores: a presença da arma de fogo na cultura do americano médio – e, que fique claro, quando falamos “americano médio” não estamos nos referindo ao morador de cidades como Nova York e Los Angeles – e a decadência econômica de parte do interior dos Estados Unidos, situação realçada pelas tomadas que mostram comércios fechados e abandonados.

 

A inquietação experimentada pelo personagem de Jeff Bridges ao tentar levar uma vida longe da perseguição a criminosos – sublinhada em uma cena na qual está na sala, ao lado do cachorro – ganha força quando ele e Chris Pine, incorporando a violência do irmão, travam uma promessa de acerto de contas em um diálogo que entrega o ponto mais tenso da produção.

 

Ambos sabem: a violência está naquela terra e também neles mesmos – e sempre estará.

A Qualquer Custo (Hell Or High Water, 2016). Direção: David Mackenzie. Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges. Drama, crime, suspense. Sinopse: Ambientado no interior do Texas, o filme conta a história dos irmãos Toby e Tanner, que, após a morte da mãe, precisam pagar a hipoteca da fazenda da família. Sem dinheiro, Toby aceita a proposta do irmão, e os dois começam a assaltar bancos das cidades vizinhas, chamando a atenção de um delegado às vésperas da aposentadoria. 102 minutos. 14 anos.

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