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Ilha dos Cachorros

Por Carlos Augusto Brandão

Ternura, humor e consciência social

“Ilha dos cachorros”, animação de Wes Anderson, é uma aventura envolvente realizada em diferentes camadas narrativas e interpelada pelo lirismo de cada um dos personagens. O filme, dividido em capítulos, se passa num Japão futurista no qual Kobayashi, cruel prefeito de Megacity, decide banir todos os cães para uma ilha-lixão, incluindo Spots, cão de guarda de seu sobrinho Atari, de 12 anos. Mas a relação de Atari com seu cachorro é mais forte que a imposição de Kobayashi, o que faz com que o menino inicie uma missão para resgatá-lo.

 

A animação tem várias leituras, desde a mais direta e sensível – acompanhar Atari em sua aventura para encontrar Spot – até conceitos mais profundos como a sutil manobra política, o descaso com os que são diferentes, o poder dos meios de comunicação, os interesses das classes que manipulam a população e um sem-número de referências – a principal delas, a que invoca a memória do diretor japonês Akira Kurosawa. Anderson convidou um elenco de peso para fazer as vozes, que, entre outros, inclui: Edward Norton, Bill Murray, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, Greta Gerwig, Harvey Keitel, Frances McDormand e o menino de 11 anos Koyu Rankin (protagonista).

 

O filme tem muitos pontos altos. Além da competência no uso do stop motion, a exuberante concepção visual, a caracterização dos cachorros e suas interpelações, a adequada fotografia de Tristan Oliver e a excelente trilha de Alexandre Desplat, na qual Yoko Ono tem uma divertida participação vocal. “Ilha dos cachorros” foi o filme de abertura da 68ª edição do Festival de Berlim. Como lembrou Dieter Kosslick, diretor do festival, foi a primeira vez que um desenho animado abriu o evento. “É um filme que vai cativar os corações do público com o charme de Wes Anderson”, profetizou Kosslick, na ocasião. Esta é a segunda animação do diretor americano, após “O fantástico Sr. Raposo” (2009), que foi um sucesso e indicado ao Oscar naquele ano.

 

A sessão de gala em Berlim de “Ilha dos cachorros” foi antecedida de uma coletiva com o diretor, que começou sua fala confirmando que a primeira influência para realizar o filme foi Kurosawa. “Jason (Schwartzman, roteirista) e eu queríamos fazer um filme sobre alguns cães abandonados em um lixo. Mas também desejávamos fazer algo no Japão, em face da nossa admiração pelo cinema do país, especialmente Kurosawa”, contou, complementando que também foi guiado por seu amor pela animação japonesa, particularmente por Hayao Miyazaki. “Esses dois diretores foram nossa inspiração. Miyazaki trouxe os detalhes e também os silêncios de que eu precisava”, revelou Anderson, que ganhou o Urso de Prata de melhor diretor na Berlinale.

 

Prêmio mais do que merecido. O cineasta construiu o comovente “Ilha dos cachorros” com maestria e senso de humor – neste filme menos melancólico do que ele costuma ser em outros trabalhos – além de conferir impressionante verossimilhança a um universo tão fantasioso.

Ilha dos cachorros (Isle of dogs), de Wes Anderson (EUA, 2017). Com as vozes de Bryan Cranston, Koyu Rankin, Edward Norton.

 

Animação/Aventura/Comédia. Sinopse: Atari é um garoto japonês de 12 anos. Ele mora na cidade de Megacity, sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo. Mas o pequeno Atari não aceita se separar do cachorro Spots. Ele convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. A aventura vai transformar completamente a vida da cidade. 101 minutos. 12 anos.

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