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Táxi Teerã (Taxi), de Jafar Panahi (Irã)

Por Carlos Brito

O Irã em trânsito

Existe uma maneira de compreender a sociedade iraniana contemporânea de forma rápida e profunda. A jornada leva apenas 82 minutos e ocorre dentro de um táxi. O veículo percorrerá as ruas de Teerã – no caminho, você vai encontrar defensores da pena de morte, advogadas humanitárias, senhoras supersticiosas, uma criança inteligente e outros personagens que, juntos, formarão um mosaico social do Irã nesta segunda década do século XXI. A viagem se chama “Táxi Teerã”. O condutor? Jafar Panahi.

 

Crítico feroz da teocracia que comanda sua pátria, desde 2010 o cineasta está proibido pelo próprio governo de realizar novas produções. Essa condição, no entanto, não foi impedimento para que ele, por meio da radicalização de formas, criasse alguns de seus principais trabalhos, quase sempre utilizando a censura a seu ofício como força motriz criativa – “Isto não é um filme”, de 2011, retrata o período em que Panahi permaneceu encarcerado em seu apartamento, enquanto cumpria prisão domiciliar. Reclusão e silêncio impostos que voltariam a ser abordados dois anos depois, em “Cortinas fechadas”.

 

Em “Táxi Teerã”, que conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2015, o cineasta espalha três câmeras no interior de um táxi que percorre a região central da capital iraniana – ele mesmo assume o lugar do motorista. No caminho, o realizador irá transportar, de forma aleatória, pessoas que simbolizam características e, na maior parte das ocasiões, as mazelas daquele país: duas senhoras presas a superstições antigas e sem sentido, um homem com visão obtusa sobre o combate ao crime, um contrabandista de filmes – as autoridades iranianas exercem forte censura sobre o conteúdo de peças artísticas -, a própria sobrinha do realizador - obrigada a fazer um trabalho cinematográfico para a escola, mas cuja percepção da realidade é tolhida por conta das leis daquele país - e uma advogada que, ao usar as melhores frases utilizadas no filme, explica as formas pelas quais os governantes cerceiam, punem e, por fim, até expulsam aqueles que criticam ou contestam o regime.

 

A produção não se preocupa em explicar se os personagens mostrados ao longo da trama são pessoas que entraram no táxi de forma aleatória ou atores contratados. Melhor assim. A dúvida sobre a condição dos intérpretes cria, na mente do espectador, o espaço necessário para a absorção do que é, de fato, fundamental: as histórias de cada um. Condição fortalecida pela abordagem documental do filme.

Ao transitar por Teerã, Panahi faz a síntese humana de seu país: libertário e repressor, moderno e atrasado, ocidental e oriental nos melhores e piores sentidos desses termos. E é graças a seu olhar que essas características, a princípio antagônicas, chegam aos olhos do público com beleza fina e rara.

Táxi Teerã (Taxi) - (Irã, 2015) de Jafar Panahi. Com Jafar Panahi. Drama. Sinopse: Neste falso documentário, o diretor Jafar Panahi instala câmeras dentro de um táxi e começa a dirigir pelas ruas de Teerã pegando clientes e conversando com eles ao longo dos trajetos. Entre os assuntos, humor e drama se misturam nas discussões sobre a política nacional, os costumes locais e a liberdade de expressão no cinema. 86 min. 10 anos.

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