Me chame pelo seu nome
Por Luiz Fernando Gallego
Um filme e um livro
Ainda que o veterano diretor James Ivory tenha sido premiado como roteirista do filme “Me chame pelo seu nome”, notícias dos bastidores da pré-produção deixam claro que o que chegou aos cinemas é resultado da concepção de Luca Guadagnino – que foi quem acabou dirigindo a adaptação do romance de André Aciman, publicado em 2007.
No livro, as cenas de envolvimento sexual entre os personagens Elio (17 anos) e Oliver (24 de idade) são bem mais explícitas, enquanto no filme a ênfase é no aspecto afetivo da relação que se estabelece entre os dois. Esta escolha foi explicitada por Guadagnino como tendo sido sua intenção, enquanto Ivory, em seu roteiro original, incluía também cenas de nudez total que o filme não registra. Até mesmo a frase do título é ouvida pelo espectador numa pegada romântica, enquanto no romance ela é proferida no auge da excitação sexual. Tudo isso mostra a independência que um filme pode ter em relação à obra literária que lhe deu origem, e foi sobre o longa que caíram prêmios, admiração e uma repercussão popular que o romance ainda não havia tido.
Talvez Guadagnino tenha optado por uma estratégia de mais abordagem dos afetos entre os dois rapazes para que o filme não ficasse restrito ao público LGBT, e, de fato, o sucesso parece ter acontecido nas mais diversas plateias. As bonitas imagens cinematográficas enfatizam a bolha cultural e intelectual da família de Elio. O enredo amplia o papel da mãe, e repete, praticamente sem mudanças, o discurso do pai de Elio como já existia no romance. Aliás, um pai inabitualmente compreensivo para com o aspecto proteiforme da sexualidade de seu filho. É claro que o desempenho dos atores Michael Stuhlbarg e Timothée Chalamet colaboraram para conferir a verossimilhança exigida de seus personagens, pai e filho, respectivamente. Assim como a cena final centrada longamente no rosto de Chalamet acentua o que se pode esperar do jovem ator.
As soluções visuais obtidas pela direção transcorrem sem exibicionismos no uso da câmera, sendo mais frequente a sutileza em momentos de escolhas bem acertadas para mostrar os desencontros e implicâncias iniciais entre os dois protagonistas, evoluindo para maior interação: a cena numa praça em que há a estátua de um soldado da Primeira Guerra, por exemplo, transcorre num plano-sequência em que os atores circundam o gradeado que envolve o monumento, um de cada lado, levando, naturalmente, à aproximação quando se encontram ao final de cada semicírculo. O espectador pode nem se dar conta conscientemente dos recursos de sintaxe fílmica utilizados, mas certamente eles colaboram para o envolvimento que o público teve com o filme, um encontro nem sempre frequente entre elogios da crítica, prêmios e bons resultados de bilheteria.
Cabe aguardar se Guadagnino vai mesmo filmar uma anunciada continuação do que aconteceu aos personagens, já que na obra literária há uma espécie de epílogos curtos, 15 e 20 anos depois.
Me chame pelo seu nome (Call me by your name), de Luca Guadagnino (Itália/França/Brasil/EUA, 2017). Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg.
Drama/Romance. Sinopse: O jovem Elio está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai. 132 minutos. 14 anos.