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Cenario Cinema 2016

Por Lucas Salgado

O cenário cinematográfico de 2016

2016 foi um ano bastante peculiar. Seja do ponto de visto político, seja econômico, seja cultural. Em meio a uma crise financeira e moral que atingiu algumas das maiores companhias do Brasil, incluindo a principal investidora em cultura do país (Petrobras), muitos festivais se viram obrigados a realizar cortes. Alguns foram diminuídos, outros adiados, e, é claro, também tivemos muitos cancelados. Os maiores prejudicados foram festivais de pequeno porte realizados fora de grandes centros. Neste sentido, a presença de importantes centros culturais em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre acabou por garantir uma boa e diversificada leva de eventos cinematográficos.

 

Pensa-se, de forma equivocada, que, diante de uma crise econômica, a primeira coisa que uma pessoa corta é o lazer. No entanto, isso está muito longe de ser verdade. Não foi assim nos Estados Unidos nas crises de 1929 ou de 2008. E tampouco foi o que ocorreu no Brasil em 2016. De acordo com estimativa do site especializado em mercado Filme B, o faturamento acumulado de bilheteria no ano deve chegar a R$ 2,6 bilhões, um aumento de 12,4% com relação a 2015. A expectativa é que tenham sido vendidos em torno de 185 milhões de ingressos, uma alta de 8,3%. O ano também apresentou um aumento no chamado market share do cinema nacional, que alcançou 14,6%, a melhor participação nos últimos três anos.

 

O ano de 2016 apresentou ainda alguns cases que precisarão ser mais bem acompanhados nos próximos tempos. Longa mais visto no país em 2016, “Os Dez Mandamentos - O filme” mostrou a força do cinema religioso e alavancou uma série de projetos, como a cinebiografia do bispo Edir Macedo. Ao mesmo tempo, a produção levantou uma série de questionamentos diante dos relatos de sessões vazias que registravam lotação de ingressos. Por outro lado, a youtuber Kéfera Buchmann chegou aos cinemas com dois filmes, um deles (“É fada!”) grande sucesso de bilheteria. A fatia de mercado com produções estreladas por influenciadores deve aumentar bastante em breve, com alguns filmes já estreando no início de 2017, como “Eu fico loko!” e “Internet – O filme”.

 

Se o cenário econômico não prejudicou o cinema, o mesmo não pode ser dito do político. Ao longo do ano, o Ministério da Cultura, que chegou a ser extinto por um breve período, teve três ocupantes na cadeira de ministro. Também foram três os secretários do Audiovisual, órgão ligado ao MinC. Por sinal, as duas instituições estiveram ligadas à polêmica escolha de “Pequeno Segredo” como representante brasileiro a uma eventual indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A escolha, hoje, já se comprovou equivocada, ainda mais diante da presença de um filme como “Aquarius”, exibido nos Festivais de Cannes e Toronto, e escolhido o melhor filme brasileiro do ano pela ACCRJ. Por sinal, o longa integra a programação desta mostra Os Melhores Filmes do Ano pela ACCRJ, que anualmente serve como pontapé de partida para o calendário de eventos cinematográficos do Rio de Janeiro.

 

A mostra da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro acontece no Centro Cultural do Banco do Brasil, um dos principais espaços culturais da capital fluminense. Ao longo de 2016, o CCBB/RJ recebeu importantes retrospectivas, como Cinema Humanista - Irmãos Dardenne, O Cinema Total de David Lean, Um filme, Cem Histórias: Abbas Kiarostami, George A. Romero - A Crônica Social dos Mortos-Vivos, Mostra de Cinema Japonês - Especial Ko Nakahira, O Cinema de Michel Ocelot, Mostra Peter Greenaway, dentre outras. O espaço também apresentou mostras dedicadas a filmografias pouco conhecidas no país, por meio de eventos como Mostra de Filmes da Austrália 2016, 6º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo e 6° Festival de Cinema Polonês. Como não poderia deixar de ser, o cinema nacional também esteve representado em seleções como A Vilania no Cinema Brasileiro, Pérola Negra: Ruth de Souza e Do Brasil para o Mundo.

 

A Caixa Cultural foi outro espaço importante para a realização de evento cinematográficos no Rio. Abrigou as mostras Kusturica, Ken Jacobs, Histórias Extraordinárias: Cinema Argentino Contemporâneo, Cinema Mexicano Contemporâneo, Bill Plympton, Kafka e o Cinema, Mostra de Animação Russa, Save Ferris - A geração X no cinema, Cinema Político: O Poder da Imagem, O Cinema de Murilo Salles - O Brasil em Cada Plano, O Faroeste Vermelho, Cinema Tailandês, Luis Buñuel – Vida e Obra, Cine Uruguai, Mostra de Cinema Alumbramento, Atom Egoyan – A Realidade Distorcida do Cinema Egípcio, A Monstra – Mostra Oficial de Animação Portuguesa e Cinecittà - A Fábrica de Sonhos.

 

O Instituto Moreira Salles, o Museu de Arte Moderna, o Espaço Itaú de Cinema, o Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro – Odeon e o Centro Cultural da Justiça Federal foram outros espaços privilegiados da exibição cinematográfica na cidade. Homenageado pela ACCRJ em 2015, o MAM, inclusive, abrigou debates, pré-estreias, exposições e lançamentos de livros. A retrospectiva O Último Durão – Centenário de Kirk Douglas foi um dos destaques da programação da Cinemateca do MAM no ano. O Cine Arte UFF, em Niterói, e o Cine Joia também receberam a mostra do lendário ator. Por sinal, o Cine Joia foi casa da primeira edição do Rio Fantastik Festival - Festival Internacional de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro. A mostra exibiu uma série de obras com elementos fantásticos e premiou cineastas com o Troféu Cramulhão, nome inspirado na Sessão Cramulhão, que celebra o cinema de suspense e terror e é realizada mensalmente no mesmo Joia.

 

Além das pequenas mostras e retrospectivas, o Rio de Janeiro manteve em seu calendário eventos de grande porte, como o Festival do Rio, o É Tudo Verdade, o Anima Mundi, a Semana dos Realizadores e o Cinefoot.

 

O cinéfilo carioca possui o privilégio de contar com uma programação cultural vasta, espalhada por diversos espaços da região metropolitana, seja através dos centros citados, seja através de cineclubes e cinemas em áreas mais isoladas, como o Ponto Cine e o Subúrbio em Transe – iniciativas reconhecidas pela ACCRJ em 2015. Para 2017, a expectativa é de novos espaços, como o Reserva Cultural de Niterói e uma nova sala no Estação Net Botafogo. É esperar para ver!

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