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Moonlight

Por Myrna Silveira Brandão

Sensibilidade e humanismo

“Moonlight: Sob a luz do luar”, de Barry Jenkins, encanta os espectadores não apenas por ser um ótimo filme, mas também pelos temas sociais e profundamente humanos que traz. Escrito por Jenkins, a partir de uma peça inédita de Tarell Alvin McCraney, o roteiro acompanha momentos da vida do protagonista em três fases distintas de sua vida: a infância, quando é apelidado de Little, a adolescência, quando é chamado por Chiron, seu nome de batismo, e, como jovem adulto, quando é conhecido por Black.

 

No primeiro ato ele é uma criança deixada à própria sorte por sua mãe Paula (Naomie Harris), viciada em drogas. No segundo, é um adolescente lidando com as inadequações próprias da idade, explicitadas por sua confusão sexual e o bullying sofrido na escola devido à forma como anda e se veste. Por último, já adulto, está envolvido com drogas em outra cidade. O personagem protagonista é vivido por três atores: Alex R. Hibbert (Little), Ashton Sanders (Chiron) e Trevante Rhodes (Black).

 

Os temas setorizam questões em capítulos específicos: a busca da figura paterna, a descoberta da sexualidade, a relação mãe e filho, sua ligação com o traficante Juan (Mahershala Ali) e com o amigo Kevin (Jaden Piner aos 9 anos, Jharrel Jerome aos 16 e André Holland, já adulto) e como eles o moldaram e, muitas vezes, o sufocaram. Menino cuja essência gentil é reprimida por circunstâncias e adversidades, ele busca assumir identidades que expressem melhor seus propósitos, ou apenas reflitam a complexidade de sua vida. Percebendo-se diferente ainda pequeno, aos 9 anos, Chiron se tornou um individuo solitário que aprendeu a permanecer calado como forma de autopreservação.

 

A trama se constrói principalmente por momentos simples, de eventos cotidianos e que levam à reflexão. A narrativa apela também para substratos raciais e sociais além de suas fronteiras, mostrando jovens à margem da sociedade, sem esperança ou oportunidades. Na verdade, a partir da história de Chiron, destinado a viver na sombra dos outros, Jenkins dá voz aos oprimidos. E também expõe o quanto a população negra é marginalizada dentro dos Estados Unidos, com grupos fechados e poucas oportunidades.

 

A impecável e belíssima fotografia de James Laxton reproduz a intimidade de um protagonista introspectivo e retraído, dispensando palavras para descrever sua personalidade. O design, por sua vez, adota texturas diferenciadas em cada um dos três atos da narrativa. O filme traz ainda um viés antropológico, mostrando que somos resultados do ambiente em que vivemos e das pessoas que nos cercam.

 

“Moonlight: Sob a luz do luar” ganhou o Oscar de melhor filme de 2017 e, se tivesse que ser definido por apenas uma palavra, esta seria sensibilidade. Sensibilidade na história, no roteiro, na escolha das locações, na iluminação, na fotografia, na atuação do elenco e, acima de tudo, na forma como vê o ser humano.

Moonlight – Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016). Direção: Barry Jenkins. Elenco: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, Mahershala Ali.

Drama. Sinopse: Baseado na história real de Tarell Alvin McCraney e em sua peça, “In Moonlight Black Boys Look Blue”, o filme conta a história de Chiron, menino negro e pobre que vive em uma das áreas mais violentas de Miami. Sofrendo com a dependência química da mãe e vítima de bullying, o garoto tem no traficante Blue sua figura paterna, contando com seu apoio para compreender sua sexualidade. 111 minutos. 16 anos.

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