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Nasce uma estrela

Por Rodrigo Fonseca

A poética do cinema de ator

Assim que a política dos autores imprimiu seu status de lei nas páginas de capa amarela da "Cahiers du Cinéma", Orson Welles foi um dos primeiros atores a aderir ao clube. O.k., ele foi um mito da direção, mas foi ator por toda a vida. Jerry Lewis e Clint Eastwood foram assimilados também sob as asas de uma crítica que fazia da autoralidade um lastro em ouro. De lá pra cá, muita atriz e ator ensaiou dirigir, de Carla Camurati a Jodie Foster, de Fanny Ardant a Maria Ribeiro. De Kevin Costner a Bradley Charles Cooper, que fez “o” “filme de ator” de 2018: orçado em US$ 36 milhões, seu “A star is born” já tem em seu caixa US$ 388 milhões em ingressos vendidos.

 

Consagrado como astro há dez anos, quando “Se beber, não case” (2009) virou um fenômeno de bilheteria, Cooper passou perto de levar o Oscar para casa três vezes, por seu desempenho como ator e por seu trabalho como produtor: filmes como “O lado bom da vida” (2012), “Trapaça” (2013) e “Sniper americano” (2014). Agora, aos 43 anos, ele dá seu passo profissional mais arriscado: dirigir Lady Gaga na releitura de uma trama nos moldes de “Pigmaleão” que ganhou múltiplas refilmagens e consagrou grandes estrelas. A julgar pelas primeiras resenhas a seu trabalho por trás (e também na frente) das câmeras em “Nasce uma estrela”, ele pode enfim colocar as mãos na tão cobiçada estatueta de Hollywood. E merecidamente...

 

Sua sorte foi lançada no Festival de Veneza, onde sua esperadíssima love story com acordes musicais virou um acontecimento. Lá no Lido, a desenvoltura dele como cineasta pôs muitos concorrentes ao Leão de Ouro no chinelo. No The New York Times, a resenha da crítica Manohla Dargis crava a palavra “belo” para definir o filme e frisa que “Bradley tem muitos acertos na direção, a começar pela escolha do elenco, com uma atuação naturalista, desarmada de Lady Gaga”. Ensaio sobre o fardo por vezes trágico da fama, “Nasce uma estrela” não vem sendo vendido como remake. Temos aqui um drama romântico sobre um cantor autodestrutivo (o próprio Bradley, numa atuação memorável) que ajuda uma aspirante a cantora a explodir no mercado fonográfico. Mas essa é uma premissa levada às telas pela primeira vez em 1937. Janet Gaynor estrelou o original, que, de tanto sucesso, inspirou mais duas refilmagens: uma de 1954, com Judy Garland, e outra de 1976, com Barbra Streisand. E, no novo longa, Lady Gaga está à altura delas.

 

Cantando ao lado de Lady Gaga, a plenos pulmões, Cooper investe ao máximo no realismo ao filmar os shows de seu personagem, Jackson Maine, e as apresentações da cantora vivida por Lady Gaga, Ally. A fotografia de Matthew Libatique potencializa a potência trágica da paixão entre os dois. O destaque vem do monstro sagrado Sam Elliott (da série “The ranch”), que rouba a cena, com sua voz gutural, no papel do irmão mais velho de Bradley.

Nasce uma estrela (A star is born), de Bradley Cooper (EUA, 2018). Com Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott.

 

Drama/Música/Romance. Sinopse: A jovem cantora Ally ascende ao estrelato enquanto seu parceiro Jackson Maine, um renomado artista de longa carreira, entra em decadência por problemas com o álcool. Os momentos opostos acabam por minar o relacionamento amoroso dos dois. 136 minutos. 16 anos.

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