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Pantera Negra

Por Filippo Pitanga

Black Power

É paradigmático o sucesso mundial de “Pantera Negra”, de Ryan Coogler ("Fruitvale Station - A última estação" e "Creed: nascido para lutar"), seja como nova perspectiva referencial, seja como reconhecimento identitário da cultura de origem africana, a partir de influências e do extracampo desta obra. A referência ao super-herói e sua simbologia, como o reino fictício de Wakanda de onde ele se origina, permearam a cultura pop recente, como o sucesso musical “Bluesman” de Baco Exu do Blues, que referencia o personagem como sinônimo de revolução.

 

Existe uma cena específica no filme que evidencia bem a proposta imagética de mudança na perspectiva do espectador por meio da fotografia de Rachel Morrison. A entrada do antagonista Erik Killmonger (Michael B. Jordan) na sala do trono do Rei, exigindo a coroa para si como legítimo herdeiro, gira a câmera de ponta-cabeça em 180º, como se dissesse que a perspectiva do mundo agora necessita ser outra: a ancestralidade africana não é apenas um conhecimento de grande valor, mas também uma potência a ser exercida ativamente contra o racismo estrutural.

 

Criado nos quadrinhos em 1962 por Stan Lee e Jack Kirby, o personagem foi fruto de referências verídicas, como Nelson Mandela, Martin Luther King, Angela Davis e o Partido dos Panteras Negras. Assim referenciou o crítico Juliano Gomes em carta aberta endereçada ao colega pesquisador Heitor Augusto e publicada na Revista Cinética: “Aproveitando que as palavras ‘pantera’ e ‘negra’ estão na ‘mídia que aparece’ esse ano, me lembro que o partido que juntava estas palavras nos EUA tinha algo importante de ser lembrado: estratégia de infiltrar o poder instituído”.

 

“Pantera Negra” chega como parte de uma primavera negra, que advém de décadas de reivindicações, a despeito de o mundo eurocêntrico só vir a reconhecer isso mais recentemente. A pesquisadora e crítica Kênia Freitas contextualiza, em texto publicado na Revista Continente, ao referenciar o historiador camaronês Achille Mbembe, que “situa o continente (africano) como um conceito político: a imaginação radical para os afrodiaspóricos de um lugar em que, de partida, ser negro em relação à branquitude não determina a experiência do cotidiano”.

 

As influências do filme são várias, do afrofuturismo aos filmes de espionagem, ao mesmo tempo em que também abraça a primavera das mulheres, cujo clímax se deu com o sucesso de "Mulher-Maravilha" e agora amplia a interseccionalidade permeando "Pantera Negra" de grandes representações femininas negras. Vale citar outra semelhança de produção, qual seja, a representatividade atrás das câmeras. Enquanto “Mulher-Maravilha” era protagonizado e realizado por maioria de mulheres, "Pantera Negra" possui uma equipe predominantemente negra nas funções criativas. Um triunfo a cravar sua marca em como fazer cinema a partir de agora no reflexo das conquistas contemporâneas, mesmo dentro de uma franquia de massas da Disney/Marvel Estúdios, porém mantendo a personalidade e a revolução.

Pantera Negra (Black Panther), de Ryan Coogler (EUA, 2018). Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o.

 

Ação/Aventura/Ficção-científica. Sinopse: A história de T'Challa, príncipe do reino de Wakanda, que perde o seu pai e viaja para os Estados Unidos, onde tem contato com os Vingadores. Entre as suas habilidades estão a velocidade, a inteligência e os sentidos apurados. 134 minutos. 14 anos.

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