Após oito anos seguidos de aumentos na venda de ingressos no Brasil, 2017 registrou uma pequena queda de 2,2% com relação ao ano anterior. Infelizmente, o cenário negativo se aprofundou em 2018. Segundo relatório prévio da Ancine, o ano passado registrou uma queda de 8,9% (números não definitivos). E o segmento mais prejudicado no período foi o filme estrangeiro, que caiu 14,1% com relação a 2017. Neste sentido, cabe reconhecer uma notícia positiva: a audiência do cinema brasileiro cresceu impressionantes 37,7%. Obviamente, é importante ressaltar que tais números são impulsionados pelo particular sucesso comercial de “Nada a perder”, cinebiografia do bispo Edir Macedo. O filme vendeu 11,9 milhões de ingressos, o suficiente para colocá-lo como maior bilheteria da história do cinema nacional, mas se viu em meio a uma polêmica com a constatação de inúmeras sessões tidas como esgotadas que, de fato, estavam vazias. “Fala sério, mãe!”, “Os farofeiros”, “Os parças”, “Tudo por um popstar”, “Minha vida em Marte” e “Detetives do Prédio Azul 2 - O mistério italiano” também ajudaram a impulsionar o cinema do Brasil em 2018. Por outro lado, é significativo apontar que algumas apostas do cinema brasileiro pro ano tiveram resultado abaixo do esperado, como foi o caso de “O candidato honesto 2”.           

 

Dentro da análise de audiência, é importante não desconsiderar algumas peculiaridades de 2018. O ano contou com uma Copa do Mundo, eleições em dois turnos e ainda uma greve de caminhoneiros que interferiram nas médias de ocupação de salas no Brasil. Para se ter uma ideia, a taxa de ocupação média no domingo do segundo turno eleitoral foi praticamente metade da média do restante do ano para o dia.

 

Para 2019, a expectativa é de um ano melhor para a indústria cinematográfica, especialmente pela presença maciça da Disney, com produções como “Capitã Marvel”, “Vingadores: Ultimato”, “Aladdin”, “O rei leão”, “Toy Story 4” e “Star Wars: Episódio IX”. O cinema brasileiro também tem suas apostas certeiras, como “De pernas pro ar 3”, “Nada a perder - Parte 2”, “Cine Holliúdy 2 - A chibata sideral”, “Turma da Mônica – Laços” e “Os parças 2”, isso sem falar em “Hebe” e “Eduardo e Mônica”, que podem fazer barulho.

 

Mesmo com um cenário do circuito cinematográfico não muito positivo, a cena de eventos culturais com foco na sétima arte no Rio de Janeiro se manteve bastante ativa. O cinema permaneceu palco de importantes festivais, mostras e retrospectivas durante todo o ano de 2018, com espaços como o Centro Cultural do Banco do Brasil, a Caixa Cultural, o Instituto Moreira Salles, o Centro Cultural da Justiça Federal, o Centro Cultural dos Correios e o Museu de Arte Moderna - MAM, além das próprias salas de cinema, como o Cine Joia, o Espaço Itaú de Cinema, o Odeon - Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, o Cine Arte UFF, o Reserva Cultural de Niterói e as salas do Grupo Estação Net.

 

Palco tradicional da Mostra Melhores do Ano segundo a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), o CCBB-RJ recebeu retrospectivas de nomes como Spike Lee, Phillippe Garrel, Buster Keaton, Mike Leigh e Helena Solberg, e panoramas de cinematografias de países como Suíça, Dinamarca e Noruega, isso sem falar na seleção Monstros nos Cinemas e eventos mais tradicionais, como Anima Mundi, Cinefoot e Mostra do Filme Livre.

 

A Caixa Cultural, por sua vez, registrou uma queda no número de mostras, embora seja possível destacar alguns eventos, como O Cinema de Hal Hartley, O Cinema Político de Ken Loach, Nouvelle Vague Soviética, Os Filmes que Driblaram a Censura de Franco e Sci-Fi Brasil – Eles Estão Entre Nós.

 

Além de manter ativa sua sala de cinema com importantes mostras e exibições ao longo do ano, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) realizou exposições cinematográficas que encantaram cinéfilos. São os casos de “Galáxia(s) do Cinema: máquinas, engrenagens, movimentos ou this strange little thing called love", com curadoria de Hernani Heffner, e “Escrever com a Luz”, do renomado diretor de fotografia italiano Vittorio Storaro, premiada inclusive pela ACCRJ como principal iniciativa cinematográfica de 2018 na cidade do Rio de Janeiro. A exposição foi acompanhada de uma master class do lendário profissional e de uma mostra com alguns de seus principais trabalhos, como “O último tango em Paris”.

 

Além das pequenas mostras e retrospectivas, o Rio de Janeiro manteve em seu calendário eventos cinematográficos de grande porte, como o Festival do Rio, o É Tudo Verdade e a Semana de Cinema (antiga Semana dos Realizadores). Não podemos deixar, no entanto, de reconhecer o ano de dificuldades. O É Tudo Verdade teve uma edição reduzida, e o Festival do Rio chegou a ser adiado em um mês pela dificuldade na obtenção de patrocínios.

 

Fechando a retrospectiva 2018, também não há como não observar a força que o streaming ganhou no ano. Esta é uma tendência que já vinha sendo constatada, mas que se mostrou quase que definitiva no ano que passou. Netflix e Amazon se mostram players cada vez mais significativos no mercado. A primeira, inclusive, lançou alguns dos filmes mais comentados do ano, como “Roma”, “A balada de Buster Scruggs” e “O outro lado do vento”. No caso de “Roma”, houve até exibições nos cinemas cariocas, ainda que em caráter extraordinário, com sessões gratuitas para pessoas que se inscreveram na internet.

 

Agora, é hora de dar um pontapé inicial na temporada cinematográfica 2019. E nada melhor que a Mostra Melhores do Ano segundo a ACCRJ para isso.