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Terra Selvagem

Por Leonardo Luiz Ferreira

Neve e silêncio

“Eu caço predadores.” Esta é a resposta dada pelo caçador Cory à agente do FBI Jane quando perguntado sobre seu ofício em Wind River. Ele é um especialista em detectar pegadas e descobrir trilhas para encontrar animais selvagens. Mas, dessa vez, é convocado para uma investigação de homicídio. O que parece incomum para o personagem se transforma em algo explícito e direto: o maior predador do planeta Terra é o homem, seja este responsável por uma ação predatória das espécies, seja pela aniquilação de seus iguais, movido por ira, ganância e outros pecados capitais.

 

“Terra selvagem” se subdivide entre dois gêneros, o policial e o faroeste. Há tanto a investigação de pistas e suspeitos quanto a questão moral e de vingança numa narrativa equilibrada e concisa, que demonstra o olhar cinematográfico particular que o diretor Taylor Sheridan, também ator de outras produções e roteirista, desenvolveu para construção de imagens e atmosferas. Dois momentos simples e efetivos de montagem já traduzem essa sensação: um chute no rosto é finalizado com a abertura de uma porta; e toques para chamar a atenção são conectados a um flashback.

 

A secura nos diálogos é uma constante na narrativa, que tem como ponto de partida e força motriz de um poema escrito por uma personagem, já morta no tempo que transcorre a ação, e que traça em poucas linhas a busca por um mundo ideal. A ausência dela pode ser percebida, logo no início, na troca de olhares tensos entre o caçador e sua ex-mulher, ainda que uma explicação esteja por vir. É essa sensação de incômodo que permeia “Terra selvagem”. Algo está sempre para ser falado, porém o não dito se estabelece com força até o momento de som e fúria, morte/vida, na sequência catártica do tiroteio.

 

As justificativas dos personagens para cometerem delitos e assassinatos são metaforizadas por meio do espaço físico (“inferno de gelo”), como se o vazio das paisagens e a falta de atividades recreativas na região fossem responsáveis pelo surgimento de um lado negro. E a única válvula de escape fosse por meio da violência. Cory ressalta que para seguir adiante na vida “deve-se aceitar a dor”. Portanto, “Terra selvagem” se constrói também como um filme sobre o luto pela morte de um ente querido e uma reflexão sobre a natureza humana.

 

O índio que sofre preconceito é aquele que rejeita, a princípio, a capacidade de uma agente federal (“Olha, já viu o que nos mandaram?!”). Entretanto, pouco a pouco, essa contenção íntima vai desembocar em arroubos emocionais e compreensão. Afinal, depois do caos, o que resta é o silêncio. E, se os animais pressentem a chegada de uma forte tempestade, cabe ao homem descobrir como sair dela.

Terra Selvagem (Wind River, 2017). Direção: Taylor Sheridan. Elenco: Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Graham Greene.

Drama, crime, mistério. Sinopse: Após encontrar o corpo de uma menina, o caçador Cory decide iniciar uma investigação ao lado de uma agente do FBI. Mas o crime traz à tona a dor de Cory, homem atormentado pelo trauma causado pela morte de sua filha adolescente. 107 minutos. 16 anos.

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