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Homenagem a  Abbas Kiarostami

Por Filippo Pitanga

A mão invisível pelas curvas da vida

Cineasta, roteirista, produtor, poeta, fotógrafo e artista plástico, Abbas Kiarostami (1940-2016) se formou na Universidade de Belas Artes de Teerã, começando a trabalhar com a Instituição para o Desenvolvimento Intelectual da Criança e do Adolescente, fator que marcaria todo o início de sua filmografia, voltada para um tom mais lúdico com protagonistas crianças, de inocência reveladora perante o mundo dos adultos.

 

Kiarostami já transgredia a fronteira entre o cinema e a plateia, como brincando em torno de quem seria o sujeito ou objeto da ação, mas, a partir de 1979, com a Revolução Islâmica, a censura se tornaria ainda mais pesada para o audiovisual. “Onde fica a casa do meu amigo?” (1987) marcaria um giro Copérnico para Kiarostami, como num road movie, onde os caminhos e as pessoas encontradas dariam a textura política de como é viver naquela terra.

 

Em 1990, o cineasta comporia o filme que é tido como sua obra-prima, “Close-up”, um docudrama sobre o julgamento verídico de um farsante que se fez passar pelo cineasta iraniano real Mohsen Makhmalbaf para extorquir uma família. O elenco é interpretado pelos próprios envolvidos na história original, que reencenam os acontecimentos a confundir a linha do que é real e o que é encenado.

 

Após um forte terremoto na cidade de “Onde fica a casa do meu amigo”, faria a Trilogia do Terremoto com “E a vida continua” (1992), que fala de um cineasta e seu filho que desejavam saber se os artistas de seu filme anterior estariam bem, numa clara projeção do alter ego do próprio Kiarostami. E depois, em “Através das oliveiras” (1994), criaria uma nova metalinguagem dentro da anterior, em que o personagem de outro cineasta estaria escalando atores para interpretar os papéis de “E a vida continua”.

 

Enfim já considerado um dos mais importantes cineastas do mundo, em 1997 recebeu a Palma de Ouro em Cannes por “Gosto de cereja”, em que um taxista pede ajuda para cometer suicídio. E, em 1999, Kiarostami ganharia o Leão de Ouro em Veneza por “O vento nos levará”, em que o protagonista conforta uma familiar morrendo. Em ambos, amadureceria sua linguagem cada vez mais em torno de temas como envelhecer e aproximação da morte.

 

Seus filmes começaram a ganhar mais protagonismos femininos a partir de “Dez” (2002), em que há uma evolução da câmera dentro do carro que ele já explorara antes, sendo que cada artista foi filmada separadamente com o próprio Kiarostami interagindo oculto no contracampo do assento de passageiro. Do mesmo modo, ele desloca a ação em cena com “Shirin” (2008), no qual um filme é exibido num telão que nunca é visto, pois a câmera só foca nas mais de cem atrizes iranianas famosas e na reação delas à luz da projeção.

 

Devido a pesadas censuras e restrições, Abbas Kiarostami fez seus últimos longas de ficção – “Cópia fiel” (2010), com Juliette Binoche, na Itália, e “Um alguém apaixonado” (2012), no Japão, terra de seu ídolo Ozu – em dois jogos de cena teatrais, quase como se estivesse falando de sua própria pátria distorcida diante de seu distanciamento dela.

 

Filmografia (longas-metragens)

1973 A Experiência

1974 O Viajante

1976 Lebassi Baraye Arossi (Traje de Casamento)

1977 O Relatório

1979 Ghazieh-e Shekl-e Aval, Ghazieh-e Shekl-e Dou Wom (Documentário)

1983 Hamshahri

1984 Avaliha

1987 Onde Fica a Casa do Meu Amigo?

1989 Mashgh-e Shab

1990 Close-up

1992 E A Vida Continua

1994 Através das Oliveiras

1995 À propos de Nice, la suite (segmento "Repérages") 

1995 Lumière e Companhia (Documentário) 

1997 Gosto de Cereja (Palma de Ouro no Festival de Cannes 1997)

1999 O Vento nos Levará (Leão de Ouro no Festival de Veneza 1999)

2001 ABC Africa (Documentário) 

2002 Dez

2003 Five Dedicated to Ozu (Documentário)

2004 10 on Ten (Documentário)  

2005 Tickets

2007 Cada Um com Seu Cinema (segmento "Where is my Romeo?") 

2008 Shirin

2010 Cópia Fiel

2012 Um Alguém Apaixonado

2013 Venice 70: Future Reloaded (Documentário) 

2016 Víctor Erice: Abbas Kiarostami: Correspondências 

Cópia Fiel (Copie Conforme) - (França, 2010), de Abbas Kiarostami. Com Juliette Binoche, Jean-Claude Carrière, William Shimell, Agathe Natanson. James Miller (William Shimell) é um filósofo inglês que vai a uma pequena cidade da Toscana apresentar seu livro sobre o valor da cópia na arte. Chegando lá, encontra Elle (Juliete Binoche), uma francesa que é dona de uma galeria de arte há muitos anos, que vive com seu filho pré-adolescente (Adrian Moore). Eles passam a tarde juntos. Ao mesmo tempo em que vão se conhecendo, começam a desenvolver um complexo jogo de interpretação de personagens. 112 minutos. 14 anos.

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