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Dunkirk

Por Mario Abbade

Crítica apontada para o individualismo

Da geração de cineastas pós-Steven Spielberg, o britânico Christopher Nolan é o mais bem-sucedido em combinar ambições artísticas e entretenimento de massa, o que rende um cheque em branco dos estúdios para seus projetos - que sempre trazem um comentário pertinente em relação à sociedade contemporânea.

 

Em “Dunkirk”, o contexto da vez é a crítica à cultura que valoriza as conquistas individuais em detrimento da solidariedade. Nolan também explora o conceito de heroísmo: em momentos cruciais todos podem se tornar heróis e isso independe do tamanho do seu ato. Para corroborar esses temas, Christopher Nolan resgata um episódio vital da Segunda Guerra. O filme conta como foi o resgate de 400 mil soldados ingleses, belgas e franceses encurralados no Canal da Mancha na cidade francesa de Dunquerque. Os EUA ainda não tinham entrado na guerra, e, se os Aliados perdessem essas tropas, seria impossível impedir que Hitler invadisse a Inglaterra. Quando tudo parecia perdido, centenas de ingleses atravessaram o Canal da Mancha em todo tipo de embarcação e conseguiram salvar 340 mil soldados. O evento é considerado a maior operação de resgate de todos os tempos.

 

Impressiona a forma como Nolan resolveu esmiuçar o acontecimento. Ele desenvolve a narrativa em três partes: a praia, o mar e o ar, e só as junta perto do final. O diretor usa ainda uma de suas assinaturas recorrentes, uma linha de tempo fragmentada, bebendo na fonte de “Amnésia”, seu segundo longa. E investe mais uma vez no seu maneirismo técnico de histórias não lineares, flashbacks e simetria. São poucos diálogos, e o diretor coloca o espectador no meio da ação. A intenção é puramente visceral, para que o público sinta o que os personagens estão vivendo. Em busca de mais credibilidade, Nolan optou por filmar em 70mm no sistema Imax, com o mínimo possível de efeitos especiais e usando 4 mil figurantes. Segundo o diretor, para atingira técnica desejada, ele estudou “O salário do medo” (1953) e “Velocidade máxima” (1994), o que fica claro no modo como trabalhou os momentos de tensão na edição.

 

Essas escolhas às vezes dividem as opiniões. Alguns o acusam de pretensioso. Mas o atributo mais correto seria audacioso. Nolan sempre está em busca de inovar a linguagem, ao mesmo tempo em que estimula o debate sobre questões cruciais. Na trilogia do Cavaleiro das Trevas, era a política interna e externa americana; em “O grande truque”, uma análise da concorrência descabida; em “A origem”, a psicologia em torno dos sonhos; e, em “Interestelar”, um embate entre filosofia e ciência. Todos os assuntos sempre relacionados com o estudo do comportamento e da psiquê humana. Em “Dunkirk”, Nolan diz claramente que ainda acredita na humanidade.

 

O texto foi publicado originalmente em O Globo

Dunkirk (Dunkirk, 2017). Direção: Christopher Nolan: Elenco: Fionn Whitehead, Kenneth Branagh, Tom Hardy, Mark Rylance. Drama, ação, história. Sinopse: Apresentando quatro núcleos distintos, o longa mostra o horror da Segunda Guerra Mundial por meio de uma de suas batalhas mais sangrentas, a Batalha de Dunquerque, que aconteceu entre os dias 25 de maio e 4 de junho de 1940. O incessante ataque nazista fez com que civis se arriscassem em alto mar para que mais de 300 mil soldados pudessem ser salvos, no que ficou conhecido como Operação Dínamo. 106 minutos. 14 anos.

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