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Destacamento Blood

Por Célio Silva

Os pecados da guerra na visão de Spike Lee

É interessante notar como o início de “Destacamento Blood” (2020), o mais recente filme de Spike Lee, conversa com o final de sua obra anterior, “Infiltrado na Klan” (2018). Enquanto o vencedor do Oscar de Melhor Roteiro de 2019 mostra em seu desfecho que o racismo continua bem vivo nos Estados Unidos, a produção seguinte do diretor de “Faça a coisa certa” (1989) revela com imagens históricas que a situação não era muito diferente na época da Guerra do Vietnã.

 

Assim, Lee denuncia que, naquele período, muitos dos afro-americanos lutaram por seu país em troca de maior reconhecimento. Mas, ainda assim, não eram considerados dignos de ter os mesmos direitos da população branca, como se fossem varridos para debaixo do tapete da História.

 

Após essa breve introdução, o espectador é apresentado aos protagonistas do filme: os ex-combatentes do Vietnã Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Eddie (Norman Lewis) e Melvin (Isiah Whitlock Jr.). Eles voltam ao país para buscar os restos mortais do líder do grupo, Stormin’ Norman (Chadwick Boseman), além de um carregamento de ouro que conseguiram esconder dos vietnamitas. Ao grupo, junta-se David (Jonathan Majors), filho de Paul, que tenta se aproximar do pai.

 

A partir dessa premissa e desses personagens, Lee trabalha questões como amizade, companheirismo, medo, culpa, frustração e ganância, enquanto vai expondo que certas cicatrizes nunca se fecham. Seja pelo lado dos americanos, seja pelo lado dos vietcongs, ainda existe muito ressentimento e a convivência entre os dois povos nunca será totalmente harmônica.

 

Um bom exemplo disso é quando Paul discute com um vendedor de aves durante a travessia de um rio, ressaltando o notável talento dramático de Delroy Lindo, certamente o grande destaque do excelente elenco. E ainda há a pequena, porém luminosa, participação do já saudoso Chadwick Boseman, como a bússola moral do grupo mesmo depois de morto.

 

Com “Destacamento Blood”, Spike Lee mostra a sua habilidade em misturar gêneros como drama, ação, suspense e até comédia e, mesmo assim, criar um longa autoral. Sua obra tem referências em clássicos como “Apocalypse now” e “O tesouro de Sierra Madre”, além de outras produções cultuadas, como “Conta comigo”, sem perda da originalidade e, principalmente, da representatividade.

 

Num ano em que o cinema sofreu com a pandemia, foi ótimo poder contar com mais um incrível trabalho desse que é um dos melhores cineastas americanos da atualidade.

Destacamento Blood (Da 5 Bloods), de Spike Lee (USA, 2020). Com Delroy Lindo, Jonathan Majors, Clarke Peters.

 

Drama/Aventura/Guerra. Sinopse: Quatro veteranos afro-americanos lutam contra as forças dos homens e da natureza quando retornam ao Vietnã, décadas depois do fim da guerra, em busca dos restos mortais de seu líder e a fortuna em ouro que ajudaram esconder. 154 minutos. 16 anos.

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