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Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino (EUA)

Por Carlos Brito

O poder da vingança no western de Tarantino

 

Vingança. Essa tem sido a matéria-prima fundamental dos roteiros escritos por Quentin Tarantino desde os dois episódios de Kill Bill, respectivamente em 2003 e 2004. O mesmo aconteceu em Bastardos Inglórios, de 2009. Com Django Livre, sua produção mais recente, essa condição não mudou. É a sede de vingança que move o escravo liberto Django Freeman (Jamie Foxx) em direção à Candyland, fazenda dominada por Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) onde negros são criados para participarem de rinhas humanas e sua amada Broomhilda (Kerry Washington) é mantida prisioneira.

 

Estamos falando de Tarantino. Por isso, desde o início o espectador sabe que veremos referências ao trabalho de outros diretores – neste caso, às obras de western spaghetti de Sergio Leone e Sérgio Corbucci –, um firme domínio da retórica – por meio de longos diálogos e monólogos –, o cuidado com a trilha sonora e a construção de uma trama cujo clímax será sanguinário. Muito sanguinário. A conhecida catarse Tarantinesca à qual o público já se habituou.

 

As referências, no entanto, não estão restritas à abordagem visual e à narrativa escolhida por Tarantino. Basta olhar os sobrenomes de alguns dos personagens principais – Freeman, King, Shaft – para entender a homenagem – neste caso, pouco sutil – a pessoas e personagens relevantes na cultura negra norte-americana. Evidentemente, isso não ocorre por acaso.

 

Além dos elementos citados, o roteiro de Django Livre garante pelo menos duas ocasiões nas quais um dos traços mais característicos da obra de Tarantino fica evidente: o senso de humor que segue ou antecede uma situação violenta – todos se lembram dos gângsteres que são obrigados a limpar o carro sujo de sangue e miolos em Pulp Fiction e do tiroteio no bar alemão de Bastardos Inglórios. Aqui, a cena em que um grupo de integrantes da Ku Klux Klan discute por conta da maneira precária como suas máscaras foram confeccionadas é um exemplo cristalino desse tipo de situação. Tão engraçada quanto a sequência, pouco mais à frente, na qual o personagem principal precisa lidar com três escravagistas – um deles, o próprio Tarantino. Novamente, violência e risos estão a segundos de distância.

 

E se o roteiro – que tem uma leve barriga ali pelo meio do filme – e a mão segura de Tarantino são as atrações principais, ainda é possível destacar, dentro da produção, pelo menos duas grandes atuações: o austríaco Christoph Waltz como o doutor King Schultz – mentor e companheiro de Django –, que na segunda colaboração com Tarantino levou seu segundo Oscar, e Samuel L. Jackson na pele do criado Stephen, em um dos melhores – talvez o melhor – papel de sua carreira.

 

Django Livre exala refinamento técnico e entretenimento pop por cada um de seus poros. Mas, sobretudo, deixa clara a marca de seu realizador. É a impressão visual e bastante particular do diretor sobre a escravidão negra no sul dos Estados Unidos durante o século XIX. Violento, catártico e emocionante. Resumindo: um filme de Tarantino.

 

Django Unchained – Estados Unidos, 2012 – Direção: Quentin Tarantino – Roteiro: Quentin Tarantino – Produção: Reginald Hudlin, Pilar Savone, Stacey Sher – Fotografia: Robert Richardson – Montagem: Fred Raskin – Elenco: Jamie Fox, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington,  Samuel L. Jackson,  Dennis Christopher, Don Johnson, James Remar, James Russo, Tom Savini – Duração: 165 minutos.

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