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Drive my car

Por Ricardo Largman

Altíssima qualidade explica tantos prêmios

  

O Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme Internacional, além do Bafta (Academia Britância) e da Palma de Ouro (de Melhor Roteiro) em Cannes, entre muitos outros prêmios, ajudam a explicar, em grande medida, como um filme japonês, com enredo, ritmo e estilo muitíssimo particulares da cinematografia asiática, conseguiu impactar corações e mentes no mundo inteiro. É uma questão de qualidade, sobretudo. A despeito dos evidentes e inequívocos méritos da obra, o que se sobressai é a maneira elegante, inspirada e serena com que o cineasta Ryusuke Hamaguchi desenvolve a narrativa de “Drive my car”.

 

Hamaguchi não tem pressa — para nada. A parte introdutória dos personagens, o prólogo, leva exatos 40 minutos até chegar aos créditos iniciais. Sua descrição dos dois protagonistas, contudo, é brilhante. De um lado está Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), complexo ator e diretor de sucesso no teatro; do outro, sua jovem motorista, Misaki Watari (Toko Miura). O improvável encontro dá-se dois anos depois da morte da esposa de Kafuku, Oto (Reika Kirishima), uma bela roteirista com quem ele mantinha um relacionamento — pouco a pouco o filme revela — pontuado por dores contidas e alguns segredos.

 

Diálogos muitas vezes secos, parcimoniosos, mas sempre precisos e pertinentes, alternam-se a longos silêncios, embora jamais incômodos. O diretor, que coassina o roteiro baseado em conto do também japonês e consagrado Haruki Murakami, comprova sua enorme sensibilidade ao captar minuciosas nuances cênicos, nas entrelinhas da trama e, claro, com a forte carga emocional enquadrada nas expressões faciais do elenco, especialmente de Nishijima e Miura.

 

Sim, o filme é longo, com duas horas e 59 minutos. Sim, é também muito lento, contemplativo, talvez “difícil” para espectadores pouco afeitos ao cinema de arte, à obra autoral ou ao ritmo e estilo orientais de contar uma bela história. Porque o filme é isto: uma bela história, muito bem contada, de qualidade — altíssima — atestada. No mundo e pelos críticos da ACCRJ.

Drive my car (Doraibu mai kâ), de Ryûsuke Hamaguchi (Japão, 2021). Com Hidetoshi Nishijima, Tôko Miura, Reika Kirishima.

Drama. Sinopse: Yusuke é um ator idoso e viúvo que procura um motorista. Ao receber a indicação de Misaki, uma jovem de 20 anos, ele tem suas dúvidas iniciais, mas uma relação muito especial se desenvolve entre os dois. 179 minutos. 14 anos.

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