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Fantástica Fábrica de Chocolate, A (Charlie and the Chocolate Factory), de Tim Burton (EUA) 

Por Jaime Biaggio

Um filme infantil? Não deixa de ser. Melhor: é. Há crianças como elemento emissor da mensagem (cinco, mais um Johnny Depp infantilizado, alvo de uma pertinente comparação com Michael Jackson). Há, presume a Warner, que bancou a brincadeira, crianças como elemento receptor. Seu universo é o do fantástico, com as cores vibrantes, os esquilos espertos, os anões divertidos - bem mais do que sete - e os rios e castelos de chocolate que - presume-se - povoam sonhos infantis. E, claro, é escancaradamente filme-com-mensagem, fábula formadora de caráter. Toda a trama é pontuada por sins e nãos. Não, não seja arrogante; não, não seja ultra-competitivo; não, não seja insensível; não, não seja ganancioso; sim, seja como Charlie, adorável menino-modelo que respeita pais e avós e sonha com um mundo melhor para sua família.

E a pergunta continua a caber: um filme infantil? Porque o universo de emoções e experiências humanas que A Fantástica Fábrica de Chocolate(Charlie and the Chocolate Factory, 2005), de Tim Burton, explora é flagrantemente adulto. Por baixo da capa de Terra de Oz, o que há é o mundo real (como na própria Terra de Oz, aliás), e sua representação não tem nada de amenizada. Quando abertos pela câmera de Burton, os portões da fábrica de Willy Wonka revelam crueldade, desejo de vingança e recalques, como os que movem as pessoas por aqui. Como os melhores filmes com uma capa "mágica", este faz questão de apresentá-la como capa: debaixo do tratamento cenográfico contrastante, o mundo dentro da fábrica é tão feio quanto o de fora.

Contudo, e sempre tomando por base o mundo real (como faz Tim Burton aqui), deve-se questionar: não é a habilidade de disfarçar, edulcorar, passar panos quentes, claramente adulta? Não são as crianças que, ao menos em tese, são incapazes disso? Agem como querem, exibem nos olhos o que sentem, são cruéis como só seres sem conhecimento das normas sociais podem ser? Não seria parte da arquetípica "pureza" a incapacidade de esconder a própria maldade e evitar-lhe as conseqüências? Sim, porque em A Fantástica Fábrica de Chocolate, as crianças más são punidas pelo roteiro.

Pode-se argumentar que é onde entra a interferência do diretor no mundo real. "Não, este é o mundo que eu criei, funciona segundo minhas regras!", diria Burton, qual um Deus vingativo, qual o próprio Willy Wonka. Mas talvez, em se tratando de um filme protagonizado por crianças inocentes, ele esteja é sendo mais astuto na sua observação da realidade.

Seria A Fantástica Fábrica de Chocolate então um filme infantil? Talvez o mais perfeito, o mais verdadeiro deles?

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