Filhas do Vento
Por Célio Silva
Ruth de Souza, a maravilhosa pioneira
Ruth de Souza foi alguém que conseguiu romper barreiras e abrir caminho para várias gerações de artistas no Brasil. A atriz, nascida em 1921, entrou para o Teatro Experimental do Negro (TEN) criado por Abdias do Nascimento em 1944 e iniciou sua carreira em 1945, ao participar da montagem da peça de Eugene O’Neill “O imperador Jones”, no Theatro Municipal do Rio. Ruth passou a chamar a atenção em 1947, por sua atuação em “O filho pródigo”, de Lúcio Cardoso.
No ano seguinte, ganhou seu primeiro papel no cinema em “Terras violentas”, adaptação de “Terras do sem-fim”, dirigida por Edmond Bernoudy e indicada pelo próprio autor, Jorge Amado. A partir daí, fez uma série de filmes para a Atlântida, muitos com o amigo Grande Otelo, e participou de produções da Vera Cruz como “Ângela” (1951), “Terra é sempre terra” (1952) e “Sinhá moça” (1953), pelo qual foi indicada para o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1954 e se tornou a primeira atriz brasileira indicada para um prêmio internacional.
Cada vez mais ganhando seu espaço e driblando o preconceito racial, Ruth de Souza participou de vários filmes importantes na década de 1960, como “Assalto ao trem pagador”, e se destacou ao interpretar a escritora Carolina Maria de Jesus na adaptação teatral de seu livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, publicado em 1960. Na televisão, Ruth se tornou a primeira protagonista negra de uma novela da TV Globo com “A cabana do Pai Tomás”, em 1969, ao lado de Sérgio Cardoso. No entanto, seu nome não aparecia nos créditos de abertura.
Dona de uma filmografia extensa, tendo trabalhado com cineastas mais jovens, como Walter Salles, em “A grande arte” (1991), e Aluísio Abranches, em “Um copo de cólera” (1999), além de muitas participações no teatro e na TV, Ruth de Souza ganhou vários prêmios. Um deles foi o de melhor atriz no Festival de Gramado de 2004, por “Filhas do vento”, de Joel Zito Araújo, em que interpretava uma atriz que volta à sua terra natal para acertar as contas com o passado.
Ela também foi tema de enredo de escola de samba do Rio, pela Acadêmicos de Santa Cruz, com o samba-enredo “Ruth de Souza – Senhora Liberdade, abre as asas sobre nós”, em 2019. Seu último trabalho foi na minissérie “Se eu fechar os olhos agora”, no mesmo ano, para a TV Globo. Uma pneumonia tirou a vida Ruth de Souza, aos 98 anos. Mas, para os amantes da arte, ela sempre estará viva. Por tudo o que fez e tudo o que conquistou.
Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo (Brasil, 2004). Com Ruth de Souza, Léa Garcia, Milton Gonçalves.
Sinopse: A morte de Zé das Bicicletas reúne suas filhas depois de 45 anos. A história das duas começou na mesma casa, mas Cida foi expulsa. Uma de suas filhas, Dorinha, despreza os cuidados da mãe e parte para o Rio de Janeiro para construir uma vida sozinha. 85 min. 14 anos.