Gran Torino (Gran Torino), de Clint Eastwood (EUA)
Por Marcelo Janot
Clint Eastwood anunciou que Gran Torino é a sua despedida das telas como ator. Nada mais justo que ele tivesse direito à aposentadoria, depois de tantas décadas de personagens inesquecíveis, como o cavaleiro solitário dos faroestes de Sergio Leone, o implacável Dirty Harry, os sábios durões de seus filmes pós-Os Imperdoáveis. Como diretor, aos 80 anos, ele continua a pleno vapor - e Gran Torino é mais um exemplo de sua maestria.
Desde a primeira cena, na missa pela recém-falecida mulher de Walt Kovalski, o filme já começa a nos ganhar com as mesmas características reconhecíveis nos melhores trabalhos de Eastwood: a narrativa clássica, os movimentos de câmera sem firulas nem maneirismos, tudo à serviço de uma história consistente, sólida, em que o que se está contando tem tanta importância quanto quem está dando vida a ela, na frente e atrás das câmeras.
Gran Torino não é apenas um filme sobre a inevitabilidade da morte, reiterada a todo instante.Gran Torino é também um longa sobre alguém que prepara a sua despedida. Uma despedida triunfal em virtude das consequências geradas por ela, mas também uma despedida triste e desesperada frente à constatação de que não há maneira melhor para tentar consertar um mundo de tantas coisas erradas, um mundo onde o Saber virou arma inútil e inofensiva.
É impossível dissociar Clint Eastwood de seu personagem no filme. Se esta foi realmente a sua despedida como ator, não poderia ter sido mais à altura de tudo o que ele representa. Com Gran Torino, Clint reacende a crença de que o cinema ainda pode emocionar de forma sincera. E isso, acredite, não é pouco.