Homenagem ao ator Jean-Paul Belmondo
Por Marcelo Janot
O mito de dois mundos
“Acossado” (1960), de Jean-Luc Godard, deriva de um argumento de François Truffaut baseado na história real de um ladrão de carros que matou um policial e viveu um romance com uma jornalista americana. Godard queria partir de uma história convencional e refazê-la de maneira diferente de tudo o que o cinema havia feito até então. Assim, o filme, bem como a Nouvelle Vague, tornaram-se uma espécie de ponto de partida para o cinema moderno dos anos 1960, tendo na figura de Jean-Paul Belmondo um de seus símbolos.
O jovem rebelde que foi lutador de boxe amador antes de se decidir pela arte dramática virou um ícone pop e foi comparado a James Dean e Humphrey Bogart, de quem pegou emprestada a roupagem “cool” com que vestiu o Michel Poiccard que interpreta em “Acossado”. A homenagem fica explícita na cena em que policiais o perseguem e ele para calmamente em frente a um cinema, cigarro onipresente na boca, e admira longamente o pôster e as fotos de Bogart em “A trágica farsa”.
Belmondo achava um exagero o rótulo de “a face da Nouvelle Vague” que os críticos lhe imputaram, até porque diversas vezes desdenhou dos filmes “intelectualizados demais” do movimento, aos quais se referia como “entediantes”. A partir de meados dos anos 1960 passaria a privilegiar filmes populares de aventura ou comédia (ou ambos, como o escrachado “O homem do Rio”, filmado no Brasil). Segundo ele, era uma opção para agradar à sua numerosa legião de fãs, que fazia de cada bobagem estrelada por ele um êxito de bilheteria.
Mas havia exceções, como “A sereia do Mississipi” (1969), de Truffaut, e sobretudo “Pierrot le fou” (1965), uma das obras-primas de Godard, em que ele interpreta Ferdinand/Pierrot, o sujeito que larga o tédio da vida burguesa para embarcar numa aventura romântica com Anna Karina. A imagem de seu rosto pintado de azul, prestes a se autoexplodir com bananas de dinamite, tornou-se uma das mais icônicas da história do cinema, o ápice do antinaturalismo godardiano. E, assim, entre a arte e a diversão pura e simples, Belmondo inscreveu seu nome entre os mitos do cinema francês.