Homenagem ao diretor Richard Donner
Por Carlos Brito
O diretor que sabia voar
“Você vai acreditar que um homem pode voar.” A frase integra o conjunto de ações de divulgação de “Superman: O filme”, lançado em 1978. De muitas maneiras, a afirmativa reflete a abordagem adotada pelo diretor Richard Donner desde os primeiros momentos da produção. Para ele, era necessário que o público, de fato, acreditasse na possibilidade de que alguém poderia vencer a gravidade em direção aos céus. Não por acaso nas paredes dos locais de ensaio e filmagem do longa, ele colou cartazes exibindo a palavra “Verossimilhança”.
A clareza de visão típica de realizador, bastante óbvia no caso mencionado acima, foi afiada por Donner ao longo dos anos em que, antes de adentrar o mundo do cinema, trabalhou como diretor de episódios de séries de TV, como “O fugitivo”, “Combate”, “Agente 86”, “O agente da U.N.C.L.E.”, e em alguns dos melhores segmentos de “Além da imaginação”, caso de “Pesadelo nas alturas”.
Três trabalhos de sucesso reduzido – “X-15” (1961), “Salt and pepper” (1968) e “Lola” (1969) – precederam sua entrada no universo cinematográfico como diretor respeitado. Isso ocorreu com “A profecia”, em 1976. O longa, que ainda surfava no sucesso das adaptações demoníacas para o cinema iniciadas com “O exorcista”, mostrou ao público um realizador com pleno domínio das ferramentas narrativas necessárias à criação de um grande filme.
“Superman”, de cuja segunda parte acabou excluído devido a desentendimentos com os produtores, abriu caminho para a sequência de produções que, logo em seguida, consolidariam sua carreira: “Os Goonies” e “O feitiço de Áquila”, além da franquia “Máquina mortífera”.
Trata-se de obra extensa e bem-sucedida assinada por um filho de imigrantes judeus russos pobres cujo objetivo principal na juventude era se tornar ator. Foi atrás das câmeras, porém, que Donner mostrou que, de fato, um homem poderia voar.
E, nesse voo, o público o acompanhou.