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Homenagem a Paulo César Peréio (1940–2024)

Por Rodrigo Fonseca

Velho no nome, eterno na saudade

 

 

Zeus no teatro de Zé Celso, demiurgo católico no desenho “Deus É pai”, de Allan Sieber, o gaúcho Paulo César de Campos Velho, mais lembrado como Peréio (variação dos apelidos de infância “Nego Véio” e “Vevéio”), zoava com a fama de escroto que conquistou (e cultivou) depois de dar trabalho para muita, mas muuuuita gente. Um aposto sugestivo - “o homem que foi expulso de uma suruba por mau comportamento” – acompanhava o astro do blockbuster “Eu te amo” (1981) em seus porres, suas fungadas insólitas, suas imposturas, mas, sobretudo, em suas incursões sempre dionisíacas nos palcos, na TV e (sobretudo) na telona.

 

De “Os fuzis” (1964) até “A fúria” (2024), ele atravessou os mais variados movimentos estéticos do cinema brasileiro, fazendo jus à divindade que lhe atribuíam por seu vozeirão. Nenhuma voz de nossa indústria cinematográfica foi mais possante (e marcante) que a dele, ecoando para além de seus filmes (muitos deles cults, como “Iracema – Uma transa Amazônica” e “Lúcio Flávio, O passageiro da agonia”), em locuções que fez, na publicidade e em mídias audiovisuais diversas.

 

Passou pelo Cinema Novo (“O bravo guerreiro”; “Terra em transe”), pelo Cinema Marginal (“Bang Bang”) e pela Retomada (“Harmada”; “O homem do ano”). Ganhou Kikitos, Candangos e o troféu Oscarito de Gramado, em seu Rio Grande do Sul natal, que coroou sua irreverência como forma particularíssima de combater a caretice nacional. Firmou parcerias com gigantes (Arnaldo Jabor, Hugo Carvana, Paulo Cezar Saraceni) consolidando uma persona explosiva, de falar nervoso, que ironizava o bom-mocismo (e o conservadorismo nele embutido) celebrando o mau humor como aríete para derrubar hipocrisias.

 

Saiu de cena em 12 de maio de 2024, aos 83 anos, sem pedir licença à nossa saudade, com direito a um documentário (“Peréio, Eu te odeio”) que expõe a forma peculiar com que ele estabelecia seu contagiante processo criativo a partir do disfarce de “garoto enxaqueca”. Atuava nas raias do ardor. Vivia nelas. Morreu mito.

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