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Homenagem a Nelson Hoineff

Por Myrna Brandão

O adeus a um grande amigo

Com a morte de Nelson Hoineff (1948-2019) a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro não perde apenas um de seus fundadores e ex-presidentes. Perdemos, sobretudo, um grande amigo e incentivador, que se orgulhava e tinha enorme prazer em ser um agregador. Não são poucos os críticos que têm alguma história pessoal envolvendo a generosidade de Nelson. A gratidão se estende ao que ele fez pela classe nas últimas décadas. Graças a Nelson, a ACCRJ se fez presente em âmbitos diversos como entidade fundadora do Congresso Brasileiro de Cinema, que definiu os rumos políticos da atividade, ou os júris da crítica em festivais importantes do Brasil e do exterior.

 

Como diretor de televisão, ele revolucionou a linguagem dos programas jornalísticos ao criar o “Documento Especial”. Não foi diferente como documentarista, deixando sua assinatura em filmes que não fugiam da abordagem polêmica (quando focou nas chacretes em “Alô Alô Teresinha”) ou eram impregnados de delicadeza como nos bastidores de um desfile da Portela (“82 Minutos”).

 

Nelson se orgulhava de que na ACCRJ não havia espaço para intrigas e futricas: “Mais do que uma associação de críticos, somos uma associação de amigos”, costumava dizer. Com ele sempre havia pretexto para estar entre amigos na sua casa: desde a morte de Fellini, todos os aniversários do mestre italiano eram comemorados com uma macarronada ao som de Nino Rota. Por isso foi tão dolorosa para todos a sua longa convalescença de um ano no hospital, onde teve a ideia de escrever suas memórias com o título “Preparativos”. Os preparativos se referiam ao seu sepultamento. À sua maneira, com o bom humor e o sarcasmo habituais, ele arranjava um jeito de driblar o sofrimento causado pelas sucessivas internações e encontrava forças para seguir adiante.

 

Em “Preparativos”, ele escreveu:

“Há uma sabedoria, diria que uma forma de paz, na despedida da vida, cuja extensão só percebemos quando estamos mergulhados nela.”

 

Acreditamos nisso, amigo. Fique em paz.

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