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Isto não é um Filme (In fim nist) de Jafar Panahi (Irã)

Por Daniel Schenker

"Isto Não É um Filme" bate na tela como um movimento de resistência de Jafar Panahi, cineasta proibido de filmar, escrever roteiros, conceder entrevistas e sair de seu país durante 20 anos, além de condenado a seis anos de prisão no Irã de Mahmoud Ahmadinejad. Impossibilitado de desenvolver seus projetos cinematográficos, Panahi procura manter o exercício profissional do único modo possível - transformando as tantas e tão arbitrárias limitações impostas em matéria-prima de trabalho. 

O diretor de "O Balão Branco" (1995) evidencia o seu cerceamento por meio de conversas por telefone com a advogada e, por não poder transpor a fronteira de seu prédio, da incorporação do convívio com vizinhos e um estudante de artes que faz bico recolhendo o lixo dos moradores. Informações sobre agitação nas ruas ou tragédias no mundo chegam brevemente por intermédio daqueles que ligam para Panahi e do noticiário televisivo. Um panorama que contrasta com a quietude de seu belo e amplo apartamento, por onde Panahi perambula na companhia de Igi, o iguana de sua filha.  

Confinado na geografia domiciliar, o diretor decide narrar para a plateia o roteiro do filme que tentou fazer, mas foi impedido pelas autoridades locais. Sem se restringir a ler o texto, ele simboliza a locação principal da história (justamente o interior de uma casa, onde vive uma personagem também aprisionada e proibida de exercer a vocação artística) na sala de seu apartamento, delimitando o espaço com fita adesiva traçada sobre um tapete. Uma falta de meios que tende a estimular a imaginação do espectador e aproxima bastante o cinema do teatro, manifestação em que a riqueza reside na escassez de recursos.

Essa empreitada - que, viabilizada com a colaboração do codiretor Mojtaba Mirtahmasb, saiu do Irã clandestinamente num pen drive para desembarcar no Festival de Cannes - transcende, portanto, a esfera do registro. Ainda assim, Panahi, em determinado momento, questiona a validade do esforço em "materializar", por meio de poucos objetos, o filme não realizado diante do público. "Se pudéssemos contar um filme, para que filmá-lo?", pergunta, inconformado. 

O conflito do cineasta com a nova experiência aumenta ao rever sequências de seus outros trabalhos, na medida em que, diferentemente das produções anteriores, aqui ele não tem a oportunidade de explorar como deseja a linguagem cinematográfica. Em todo caso, Jafar Panahi é um diretor acostumado a lidar com o improviso, a exemplo da difícil relação com a menina de "O Espelho" e da imprevisibilidade suscitada pelos atores amadores em "Ouro Carmim". Os tópicos destacados elevam "Isto Não É um Filme" a um resultado artístico bem superior ao de uma obra de ocasião.  

In Fim Nist - Irã, 2011 - Direção: Jafar Panahi, Mojtaba Mirtahmasb - Roteiro: Jafar Panahi  - Produção:  Jafar Panahi - Fotografia: Mojtaba Mirtahmasb - Montagem: Jafar Panahi  - 75 minutos.

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