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Joias brutas

Por Luciana Costa

Opala de sangue

Sufocante filme feito pelos diretores Ben e Josh Safdie (“Bom comportamento”, 2017), “Joias brutas” segue a trajetória do anti-herói Howard Ratner (Adam Sandler). Um dono de loja de penhores viciado em apostar não só no jogo como arriscando a própria vida, a partir do momento que chega às suas mãos uma opala de altíssimo valor. O longa nos leva a um lugar de extremo desconforto, onde tudo pode dar errado a cada minuto, já que o protagonista, de personalidade limítrofe, se mete em confusões e trapaças fazendo malabarismos com a vida. Seu mundo pode desabar a qualquer instante, basta que algum detalhe de suas artimanhas dê errado. Trapaceiro canastrão que vive no submundo, ele é responsável pelos próprios problemas, mesmo assim ganha completamente a simpatia e a torcida do espectador.

 

Os irmãos Safdie – como são conhecidos os diretores – mantêm o estilo que os consagrou, ao criar uma narrativa claustrofóbica. Sabiamente, utilizam-se de cores mais escuras nas filmagens e de diálogos que se atropelam e se interrompem, causando a atmosfera asfixiante. Tudo isso para dar ao filme um tom pouquíssimo lapidado, trazendo veracidade com cortes bruscos e personagens críveis.

 

Em 2014 conhecemos a veia dramática do ator e comediante Steve Carell no filme “Fox Catcher – A história que chocou o mundo”; o feito se repetiria um ano depois em “A grande aposta”. “Joias brutas” marca a ascensão de Adam Sandler fora de sua zona de conforto, a comédia. O camaleão já havia mostrado competência em 2002 no filme “Embriagado de amor”, de Paul Thomas Anderson, considerado um dos diretores mais técnicos da história do cinema. É preciso um verdadeiro talento para fazer rir e chorar, ou, como no caso de “Joias brutas”, roer as unhas.

 

Na maioria de seus trabalhos, Sandler segue os passos do rei do humor Jerry Lewis (1926-2017). Esta produção, que aqui no Brasil foi lançada diretamente no canal de streaming Netflix, é um tapa com luva de pelica na cara dos incrédulos, que o tachavam como mais um ator canastrão de comédia. Aqui ele nos faz perder o ar em brilhante atuação, lembrando a performance de um jovem Al Pacino.

 

Uma das forças motrizes das confusões envolvendo a pedra preciosa é o jogador de basquete Kevin Garnett, interpretado pelo próprio jogador. O projeto ainda conta com produção executiva de Martin Scorsese. O desfecho da trama, apesar de devastador, é um alívio para o espectador, que passa, sem sombra de dúvida, mais de duas horas sem respirar.

Joias brutas (Uncut gems), de Benny Safdie e Josh Safdie (USA/2019). Com Adam Sandler, Julia Fox, Idina Menzel.

 

Drama/Suspense. Sinopse: A trama se passa em Nova York, primavera de 2012. Howard Ratner é o dono de uma loja de joias que está repleta de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos.135 minutos. 16 anos.

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