Judas e o Messias Negro
Por Célio Silva
Quando a revolução rimou com traição
Em tempos de Black Lives Matter, um filme como “Judas e o Messias Negro” é essencial para mostrar a importância da luta contra o racismo, além de levar o público a conhecer melhor o Partido dos Panteras Negras e um de seus líderes mais relevantes.
Na produção dirigida por Shaka King, Daniel Kaluuya (que ficou famoso ao protagonizar “Corra!”) vive Fred Hampton. Jovem ativista afro-americano que ascendeu nos Panteras Negras e se tornou o presidente do partido no estado de Illinois (EUA), Fred foi morto pela polícia em 1969.
Por causa de suas atitudes, um agente do FBI, interpretado por Jesse Plemons (“Vice”), resolve infiltrar um informante no grupo e, para a missão, escolhe o ladrão de carros William O’Neal (LaKeith Stanfield, também de “Corra!”). Com medo de ser preso, O’Neal aceita espionar Fred e seus companheiros. Ele só não esperava que, à medida que convivesse com os Panteras, ficaria cada vez mais difícil delatar os ativistas, o que o levaria a um conflito interno de ordem moral e racial.
Inspirado em fatos reais, “Judas e o Messias Negro” se vale de uma ótima direção de King, que também assina o roteiro, ao lado do parceiro Will Berson. King constrói boas cenas de suspense, principalmente as que envolvem O’Neal na iminência de ser desmascarado, mas as melhores sequências são aquelas em que Fred discursa para o público. Quando ele grita “Eu sou um revolucionário!”, as palavras ficam na memória do espectador. Por esse papel, Kaluuya levou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de 2021.
Também LaKeith Stanfield está perfeito, transmitindo bem as contradições subjetivas de O’Neal. Vale destacar a atuação de Dominique Fishback como Deborah, namorada de Fred, com quem ela divide cenas emocionantes, em especial quando ambos discutem o futuro do filho.
Produzido por Ryan Coogler (de “Pantera Negra” e “Creed”), “Judas e o Messias Negro” conquistou o Oscar de Melhor Canção, com a bela “Fight for you”. Porém, mais do que prêmios, o filme conquistou o mérito de fazer o grande público conhecer a luta, a representatividade e o legado que Fred Hampton deixou para outras gerações. E isso não é pouca coisa. Afinal, a revolução continua e a esperança pelo fim da discriminação racial permanece.
Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah), de Shaka King (EUA, 2021). Com Daniel Kaluuya, LaKeith Stanfield.
Drama. Sinopse: A história de Fred Hampton, presidente do Partido dos Panteras Negras de Illinois, e sua fatídica traição pelo informante do FBI William O’Neal. 126 min. 16 anos.