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Killer Joe – Matador de Aluguel (Killer Joe), de William Friedkin (EUA)

Por Leonardo Luiz Ferreira

Mal Absoluto

 

A postura altiva de John Wayne, a honestidade de James Stewart e a força de Clint Eastwood. Todos são astros que eternizaram seus nomes em Hollywood e que têm em comum o western como propulsores de suas carreiras. Se o gênero teve, em sua forma mais classicista, o canto do cisne com Os Imperdoáveis (1992), ele sobrevive também com uma roupagem contemporânea, como nos filmes de John Carpenter, entre eles Assalto à 13ª DP (policial, 1978) e Fantasmas de Marte (ficção científica, 2001). E, mesmo que a princípio não pareça, o faroeste influencia diversos autores e roteiristas, seja por sua estrutura dramatúrgica de mocinhos e bandidos, seja pela investigação das raízes violentas da América. É nesse ponto que transitam duas das mais fortes obras do cinema norte-americano recente: Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), de Ethan e Joel Coen, e Killer Joe – Matador de Aluguel (2011), de William Friedkin.

 

Assim como o personagem de Anton Chigurh interpretado por Javier Bardem em Onde os Fracos Não Têm Vez, o policial Joe Cooper encarna o mal absoluto que cumprirá sua missão independentemente de qualquer percalço no caminho. Ainda que se apaixone pela suposta pureza de Dottie, Joe conduz de maneira inabalável o seu ofício de punir e matar todos que atravessam o seu caminho.

 

Killer Joe – Matador de Aluguel apresenta personagens torpes, consumidos por falta de ambição profissional e baixa autoestima. Todos estão bem delineados e desenvolvidos pelo elenco e funcionam como peças de um tabuleiro, uma família destituída dos elementos mais básicos de afeto para a união. A habilidade do cineasta Friedkin – que se tornou maldito e subestimado desde que realizou O Exorcista (1973) – está em manipular desde o princípio esses elementos para que tudo ecloda de maneira catártica no desfecho claustrofóbico, que mantém tanto as matrizes teatrais quanto a sua mise-en-scène precisa para pequenos espaços (Possuídos, 2006), que se constrói entre a caricatura proposital e o patético do ser humano. Os planos que se sucedem no espaço exíguo de uma sala de jantar são orquestrados para produzirem um dos mais pungentes retratos de falência familiar e do homem como tal.

 

A trama de contratar um matador para receber uma apólice de seguro de vida já foi vista e retratada centenas de vezes no cinema. O que impressiona no roteiro e na peça de Tracy Letts é a absoluta naturalidade e franqueza dos diálogos. Essa frontalidade incomoda bem mais do que a violência gráfica ou o melodrama. Os envolvidos no assassinato de um ente próximo tratam a ação como se estivessem discutindo a compra de um carro novo. Para o personagem de Chris, seu sonho é ter uma fazenda, assistir a TV, fumar maconha e beber cerveja. Um sentimento também compartilhado por seu pai. E, se para isso é preciso matar a mãe/ex-mulher, então que seja. Killer Joe escancara e não empurra a sujeira para debaixo do tapete. Porque no final não existe amor puro, há o mal e ponto.

 

Killer Joe – Estados Unidos, 2011 - Direção: William Friedkin – Roteiro: Tracy Letts – Produção: Nicolas Chartier, Scott Einbinder - Fotografia: Caleb Deschanel – Montagem: Darrin Navarro – Elenco: Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple, Gina Gershon, Thomas Haden Church – Duração: 102 minutos.

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