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Magia ao Luar (Magic in the Moonlight), de Woody Allen (EUA)

Por Luiz Fernando Gallego

Antídoto para o peso da existência

 

De muitos anos para cá, quando Woody Allen lança filmes dramáticos, não falta quem lamente que ele não tenha realizado mais uma comédia, gênero ao qual a persona original do ator ficou muito identificada. Apesar do fato de que, como diretor, tão logo conseguiu autonomia para realizar o que bem quisesse, ele não tenha se limitado a realizar apenas comédias. Por outro lado, quando faz filmes mais “leves”, como é o caso deste Magia ao Luar, há sempre alguém criticando a suposta “banalidade” dentro do formato de“comédia romântica”. Desta vez, entretanto, Allen conseguiu discutir, com leveza, um tema grave: a felicidade humana dependeria de crenças, mais ou menos mágicas, que nos aliviassem das duras realidades da vida? Ao mesmo tempo em que repete algumas de suas obsessões ligadas aos truques de mágicos, à psicanálise e a psicanalistas, o cineasta construiu uma versão menos amarga do que já abordara no subestimado Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, de 2010.

 

Em algum momento do filme, já pela metade, o fã que conhece o ceticismo do diretor em relação a “soluções” místicas ou/e mágicas pode até pensar que Allen está fazendo um “mea culpa”, pois tudo vem indicando que uma jovem médium (vivida por Emma Stone) seria realmente dotada de capacidades extrassensoriais – o que leva o mágico profissional (Colin Firth) habituado a desmascarar tal tipo de charlatães a mudar de opinião em relação à possibilidade de que tais fenômenos existam de fato. Isto, sem dúvida, poderia ser um consolo para nossas frustrações cotidianas, perdas... enfim, minorar nosso desamparo.

 

Como em filmes nos quais faz citações de outras obras do cinema, do teatro ou da literatura – muitas vezes até mesmo realizando paráfrases de outras ficções, como no anterior Blue Jasmine, calcado na situação original de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams –, em Magia ao Luar, Allen, com auxílio precioso do desempenho de Colin Firth, faz lembrar o personagem do professor Higgins de Pigmalião, peça de Bernard Shaw mais conhecida pela adaptação musical My Fair Lady, levada às telas em 1964. Não é necessário que o roteiro envolva a transformação de uma florista em dama da alta sociedade como nova Cinderela: a aproximação vem da irreverência e da irritabilidade do personagem de Firth com as mesmas características que existem no personagem de Shaw. O papel de Emma Stone, por sua vez, lembra os que Allen reservava para suas musas em filmes mais antigos: cairia como uma luva em Mia Farrow ou Diane Keaton quando jovens – em relação às quais Emma sofre alguma desvantagem.
 

Mas o que importa mesmo para usufruirmos o filme é a possibilidade de que a alienação das questões trágicas da vida possa ser imprescindível para atingirmos a felicidade – questão que fica para o foro íntimo de cada um decidir. No entanto, já é bem proveitoso encontrarmos diversão inteligente em filmes como este para contrabalançar o peso da existência: Magia ao Luar mostra que o cinema consegue isso enquanto o filme está na tela.

Magic in the Moonlight – EUA, 2014 - Direção: Woody Allen – Roteiro: Woody Allen – Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum, Edward Walson - Fotografia: Darius Khondji – Montagem: Alisa Lepselter – Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Antonia Clarke, Natasha Andrews  – Duração: 97 minutos.

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