Melhor Iniciativa Cinematográfica de 2022
Por Alê Shcolnik
A diáspora africana no Cinema
O educador Clementino Jr, criador do CAN, cineclube Atlântico Negro, desde cedo teve exemplos do audiovisual. Filho dos atores Chica Xavier e Clementino Kelé, a sua relação com a indústria começou cedo, por meio dos roteiros pela casa. Coube a irmã Izabela transformá-lo num cinéfilo e em um futuro cineasta nos anos 70 e 80. Porém, Clementino preferiu estudar design e retornar aos poucos ao audiovisual nos anos 90.
Educador audiovisual desde 2007, Clementino Jr ensina as pessoas a se expressar por meio do cinema. Ele conta que “como educador é preciso transformar a ‘leitura do audiovisual’ como uma necessidade básica, evitando a propagação de ideias que fragmentam a sociedade e estimulam a ignorância”.
O cineclube Atlântico Negro surgiu em setembro de 2008 e vem se transformando ao longo do tempo, acontecendo também de forma on-line após a pandemia do Covid-19.
“Num país onde tem pessoas negras (pretas e pardas, segundo o IBGE), o público não negro tem dificuldade em entender o cinema da diáspora africana. O protagonismo de pessoas pretas é mais do que um ato político, é também uma obra de arte. ‘Pantera Negra’ ainda é a criação de um homem branco. Com toda a sua potência, o lucro principal da obra ainda não está nas mãos dos negros. Aliás, isso ainda acontece na produção negra que preenche uma programação ainda embranquecida”.
Clementino completa, “os atos políticos são acima de tudo artísticos. É urgente uma mudança de consciência da cadeia de produção. O antirracismo não deve ser feito só por quem o sofre. Há uma autocrítica, que a maioria não enxerga. A sociedade não busca reverter a sequência de erros históricos que causaram impactos ambientais e humanitários absurdos com a colonização das Américas”.
Sobre os fatos que aconteceram no dia 08 de janeiro, Clementino diz, “Vimos no Congresso uma metafórica busca do eldorado em território selvagem. O detentor da narrativa naquele dia usou de violência para expor uma sociedade que transcende a polaridade. O audiovisual é fundamental nesse momento, propondo uma contra narrativa para que o cinema que queremos sobreviva”.