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Os melhores filmes de 2015

Por Mario Abbade

Diversidade e qualidade

  

Começa janeiro, e chega aquele momento de apresentar o melhor do cinema no ano anterior. Apesar da data já consagrada e conhecida pelo público, a eleição dos destaques cinematográficos tem uma novidade. Em quase 40 anos de ACCRJ, é a primeira vez que uma grande produção do tipo blockbuster ganha como melhor filme do ano: “Mad Max: Estrada da fúria”, do septuagenário cineasta australiano George Miller. Isso demonstra uma bem-vinda falta de preconceito por parte dos críticos em premiar longas do estilo. A escolha é democrática, e o que importa é a qualidade do filme. E tem algo que não é coincidência: “Mad Max: Fury road” (no original) está nas listas de melhores do ano de todas as associações e veículos relevantes ao redor do planeta. Além disso, a relação dos 10 mais da ACCRJ está bem diversa: tem animação, filme comercial, independente, ganhador do Oscar, o vencedor em Cannes...

 

Ao lado de “Mad Max: Estrada da fúria”, será exibido “A pele de Vênus”, do franco-polonês Roman Polanski. Além de serem filmes de dois mestres que têm uma assinatura autoral, ambos os longas têm uma forte protagonista feminina. Elas agem de forma diferente e em ambientes bem distintos, mas as duas objetivam dar um basta à opressão recorrente de uma sociedade machista.

 

Outra dupla é formada por filmes que estudam causas e consequências em obsessivos personagens masculinos: o de “O abutre” e o de “Whiplash: Em busca da perfeição”. “O abutre” concorreu ao Oscar de roteiro original, e “Whiplash” levou a estatueta em três categorias: ator coadjuvante (J.K. Simmons), edição e mixagem sonora.

 

O assunto Oscar 2015 continua em “Birdman”, que levou quatro estatuetas: melhor filme, diretor, roteiro original e fotografia. Seu parceiro na programação será a animação “Divertida mente”, já que em ambos ouvem-se vozes vindas de dentro da cabeça, entre outros assuntos abordados.

 

O cinema contemplativo está presente por meio do polonês “Ida” e do turco “Sono de inverno”. As duas produções têm seus segredos e descobertas. Cada uma no seu ritmo, estilo e duração, mas ambas premiadas. “Ida” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015, e “Sono de inverno” (mais conhecido como “Winter sleep”) levou a Palma de Ouro em Cannes de 2014.

 

O cinema nacional vem representado por “Que horas ela volta?”, melhor filme brasileiro do ano, que já foi consagrado em diversos festivais pelo mundo, com destaque para o prêmio das atrizes Regina Casé e Camila Márdila no Festival de Sundance 2015. O longa dirigido por Anna Muylaert será exibido no mesmo dia em que duas produções que prestam homenagens ao cineasta Carlos Manga e à eterna diva Marília Pêra, que nos deixaram esse ano.

 

Ainda no campo das homenagens, a diretora belga Chantal Akerman e o cineasta português Manoel de Oliveira, que também se foram em 2015, terão filmes na mostra. Além do filme de Chantal, será apresentado o documentário “Chantal Akerman, de cá”, dos cineastas Leonardo Luiz Ferreira e Gustavo Beck. Já a sessão do longa de Manoel de Oliveira receberá a companhia de “As mil e uma noites: Volume 1, O inquieto”, produção que escolhida entre as dez melhores do ano pela ACCRJ, do também português Miguel Gomes.

 

Vale também ressaltar os filmes que, por um voto, quase entram na lista final: “Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako; “Dois dias, uma noite”, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne; “Casa grande”, de Felipe Barbosa; “Força maior”, de Ruben Östlund; e “Ponte de espiões”, de Steven Spielberg.

 

O prêmio para melhor iniciativa cinematográfica foi para os 30 anos de serviços prestados ao espectador pelo Grupo Estação, pela diversidade de escolas cinematográfica exibidas, com uma bela e necessária programação. Além da data comemorada em 2015, o Estação recebeu o prêmio também por retomar a publicação da revista Tabu. Uma atitude heroica, já que vai na contramão do atual mercado de veículos impressos. Junto com o Grupo Estação, foram premiadas a retrospectiva completa do cineasta Jean-Luc Godard no CCBB e a revitalização da Cinemateca do MAM por intermédio do jornalista Ricardo Cota, que recolocou o espaço no seu nível de excelência com mostras, pré-estreias e eventos.

 

A mostra Melhores Filmes do Ano tem opção para diferentes gostos, e todos os filmes e homenagens terão debates reunindo os críticos da ACCRJ e convidados das mais diferentes áreas de atuação. Uma ótima oportunidade para o público colocar suas ideias, mostrando se concorda ou não com os críticos. Nos vemos lá.

Mario Abbade

Organizador da Mostra e Secretário-Geral da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)

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