Nada de novo no front
Por Carlos Brito
A guerra como fracasso humano
A romantização de guerras é perigosa – conflitos armados representam o fracasso humano em solucionar divergências de forma pacífica e com vidas poupadas. Na maioria das vezes, embates bélicos em larga escala resultam apenas em uma grande contagem de cadáveres.
Na ficção, poucas obras conseguiram transmitir o horror e a absoluta ausência de glamour da guerra de forma tão efetiva quanto “Nada de novo no front”. Escrito por Erich Maria Remarque – ele mesmo, um veterano do Exército alemão -, o livro lançado em 1929 traz descrições precisas do front ocidental da Primeira Guerra Mundial e do cotidiano de sofrimento vivido pelos soldados nas trincheiras.
Além do valor literário, o romance nasceu com uma sorte rara para adaptações cinematográficas. A primeira é de 1930 – dirigido por Lewis Milestone na aurora do cinema falado, o filme impressiona até hoje pela intensidade das imagens dos campos de batalha e beleza da fotografia. A produção conquistou dois Oscar: melhor filme e melhor direção.
Uma segunda adaptação - não tão inspirada, mas ainda eficiente - foi feita para a TV americana CBS em 1979, sob direção de Delbert Mann.
A versão mais recente de “Nada de novo no front” é a primeira realizada na Alemanha – e talvez por isso, seja tão feliz em transportar às telas o peso do texto original.
O diretor Edward Berger lança mão de uma abordagem crua e ao mesmo tempo exuberante para contar a história: o tom da fotografia é cinzento, com ausência quase total de cores quentes, aumentando o grau de realismo dos conflitos. A trilha principal é composta por três notas que se repetem em sequência crescente, o que aumenta a tensão da trama de forma progressiva. E o elenco entrega a tristeza e desesperança nascidas da escolha infeliz feita pelos personagens.
Ao mesmo tempo que possui todos os méritos cinematográficos, “Nada de novo no front” permanece como um dos avisos mais eficientes da máquina de moer carne humana que, em última análise, é a guerra.
Nada de novo no front (Im Westen nichts Neues), de Edward Berger (Alemanha/EUA/Reino Unido, 2022). Com Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer.
Drama. Sinopse: As terríveis experiências e angústias de um jovem soldado alemão na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial. 148 minutos. 14 anos.