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No, de Pablo Larraín (Chile / EUA / França)

Por Carlos Augusto Brandão

No entorno da história

 

No, quarto longa-metragem do chileno Pablo Larraín, dá continuidade à sua temática sobre a ditadura de Pinochet por intermédio de personagens singulares no entorno da História. Assim foi com Tony Manero, no filme homônimo, história de um bailarino ambientada na época da ditadura; com Mario Cornejo, em Post Mortem (2010), sobre um outro 11 de setembro trágico, o chileno, que aconteceu primeiro, em 1973, mas foi superado na memória coletiva pelo ataque ao WTC; e agora em No, com  o publicitário René Saavedra.

 

Saavedra teve uma forte atuação quando Pinochet realizou um plebiscito em 1988 para saber se continuaria à frente do governo chileno e o resultado foi o NÃO, que dá título ao filme. Baseada na peça teatral O Plebiscito, do escritor chileno Antonio Skármeta, a trama segue Saavedra, o exilado que retorna ao Chile e coloca o seu talento a serviço de uma agência de publicidade. Como é explicado no filme, Pinochet convocou um referendo nacional, forçado pela pressão internacional, para decidir se ele permaneceria no poder. Em termos percentuais, o Sim teve 44,01%, e o Não, 55,99%.

 

Gael Garcia Bernal tem um excelente desempenho como o publicitário que, após vencer a relutância de seus colegas, coloca um toque de humor na campanha diária de 15 minutos que, durante um mês antes da votação, foi transmitida pela televisão chilena.  Bernal traz o equilíbrio e a ambiguidade que eram necessários para o papel: o de um chileno exilado no México que retorna ao seu país.

 

O filme foi rodado em suporte de vídeo U-matic ¾, para que a textura e as cores dos documentos exibidos na época pela televisão chilena se fundissem com as cenas de ficção. O objetivo foi fazer uma conexão entre os dois períodos, já que, conforme explica Larraín, filmar em película ou com as câmeras digitais de alta definição atuais poderia gerar uma distância do imaginário da época. “Era importante esta fusão para que, no resultado final, não pudesse ser distinguido qual material é nosso e qual é da televisão”, ressalta.

 

Larraín explica que o desenvolvimento do roteiro partiu da figura de Saavedra. “Sua história, que não é muito conhecida porque até então nunca havia sido contada, foi o ponto de partida. Havia um personagem único. O que fizemos foi desenvolver a obra, conversar com as pessoas que fizeram a campanha. Além de ter sido um processo muito interessante, o motor para a adaptação foi a nossa própria curiosidade, saber como a campanha tinha sido feita. No filme, cada personagem realmente representa um grupo inteiro de pessoas da realidade. São como arquétipos”, afirma.

 

No – que ganhou o prêmio da Semana dos Realizadores no Festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013 – é um thriller político com uma poderosa ressonância nos tempos atuais.  

 

No – Chile/ Estados Unidos/ França, 2012 - Direção: Pablo Larraín – Roteiro: Pedro Peirano, Antonio Skármeta – Produção: Daniel Marc Dreifuss, Juan de Dios Larrapin, Pablo Larraín - Fotografia: Sergio Armstrong – Montagem: Andrea Chignoli – Elenco: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Luis Gnecco, Néstor Cantillana, Antonia Zegers – Duração: 115 minutos.

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