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Nomadland

Por Tatiana Trindade

A beleza da terra devastada

A América é o lar das pessoas que, em busca de sonhos, fazem de tudo para alcançar seus objetivos. Movidos pela esperança, elas são levadas a crer que serão bem-sucedidas na trajetória que mudará suas vidas. Americanos, ou não, todos têm as mesmas dificuldades no território e nem todos saem vencedores da própria história, ainda que a vitória seja, até certo ponto, subjetiva.

 

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz de 2021, “Nomadland” passeia pela América arrasada e pouco notada: a dos nômades de pequenas comunidades. Os sonhos não se concretizaram e o nomadismo tornou-se o estilo de vida adotado pelos que cansaram de tentar. São homens e mulheres que chegaram à terceira idade com dificuldades e sem se encaixar no conceito de “vencer na vida”. Existentes sazonais, eles transitam entre galpões natalinos e feiras, onde sua mão de obra barata pode ser útil. Uma “utilidade” que se torna, ano após ano, cada vez mais obsoleta.

 

Chloé Zhao, com essa tela inóspita para compor um retrato incomum, ambienta o espectador em aridez, sujeira, temperaturas extremas, trailers apertados e salários irrisórios de pessoas que só precisam do mínimo para sobreviver. Através do olhar de Fern, interpretada por Frances McDormand, somos conduzidos aos limites de uma América esquecida. Ainda assim, conhecemos histórias cativantes, e a beleza se traduz em fins de tarde, em meio à alegria de momentos comuns, e em sentimentos de carinho entre essas famílias criadas pelo acaso. O filme se coloca nessas vidas reais, no limiar entre o fictício e o documental, e faz um recorte único dessas realidades ignoradas. Zhao torna o longa agridoce, ao dar cor a problemas sociais que o espectador ignorava por desconhecer.

 

O filme, por fim, deixa em aberto este “vencer na vida”. Talvez ele seja ressignificado pelo amor de uma família, ainda que improvisada. Será que essas pessoas, de alguma maneira, não encontraram a felicidade?

Nomadland, de Chloé Zhao (EUA, 2020). Com Frances McDormand.

Drama. Sinopse: Após perder tudo na Grande Recessão, uma mulher na casa dos 60 anos embarca em uma viagem pelo Oeste americano dentro de uma van, tal qual uma nômade moderna. 110 min. 12 anos.

 

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