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O Garoto da Bicicleta (Le gamin au velo), de Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne (Bélgica/Itália/França)

Por Carlos Augusto Brandão 

Depois de dividir no Festival de Cannes o Grande Prêmio do Júri com "Once upon a time in Anatolia", de Nuri Bilge Ceylan, e abrir a 35ª Mostra de SP, "O garoto da bicicleta", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, continua emocionando plateias por onde tem passado. 

O filme é mais uma investida dos Dardenne na temática político-social, que eles vêm seguindo desde longas como "La promesse", sobre trabalho semiescravo de imigrantes ilegais na Bélgica, "Rosetta", que aborda a desumanidade do desemprego, e "A criança", forte drama sobre um casal marginalizado.

A história do novo filme dos diretores belgas segue Cyril, um jovem de 13 anos, que vive num lar para menores. Na busca desesperada pelo seu pai - e tendo uma bicicleta como última recordação dele -, o garoto passa os fins de semana com a cabeleireira Samantha (Cécile de France), que lhe oferece abrigo e carinho.

Inicialmente os diretores tinham imaginado Samantha como uma médica ou psicóloga, mas mudaram de ideia por considerarem que, como cabeleireira, ela seria mais convincente no papel da mulher que ajuda um menino a emergir da violência que o faz prisioneiro.

Cyril é interpretado pelo excelente novato Thomas Doret, que foi selecionado entre 150 jovens aspirantes ao papel. Como explicou Jean-Pierre, ele foi escolhido por sua capacidade de força e concentração, elementos fundamentais para conseguir dar vida a um personagem que caminhava, a passos largos, para o lado marginal da sociedade.

Como sempre acontece no cinema dos irmãos cineastas, por trás de uma história particular, o filme traz um olhar crítico e universal sobre a sociedade atual, as turbulências que permeiam a vida, a crise das relações entre as pessoas e a família.

A dura realidade da Bélgica é pano de fundo para esta história de amor com vários elementos de contos de fada: cenas numa floresta, pessoas boas e outras más, Cyril - que é um pouco Pinóquio - e Samantha, uma espécie de fada madrinha.

Fugindo à regra que costumam seguir no seu trabalho, os diretores abriram uma exceção para usar música neste filme, mesmo que de uma forma fragmentada. Segundo contaram, hesitaram muito antes de decidir, mas acharam que o contexto da história precisava ter desenvolvimento, lirismo e momentos de emoção, que a música consegue transmitir. 

Apesar da carga dramática do tema, a abordagem do filme é delicada, escapa da cilada fácil de retratar uma bondade de clichê e, acima de tudo, deixa um rastro de esperança.

Le gamin au velo - Bélgica/Itália/França, 2011 - Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne - Roteiro: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne - Produção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne, Denis Freyd - Fotografia: Alain Marcoen - Montagem: Marie-Hélène Dozo - Elenco: Thomas Doret, Cécile De France, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Egon Di Mateo, Olivier Gourmet, Batiste Sornin, Samuel De Rijk, Carl Jadot, Claudy Delfosse, Jean-Michel Balthazar - Duração: 87 minutos

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